sexta-feira, abril 15, 2022

OS LIMITES DA CIDADANIA E DO DIREITO


 

Não existe espaço para o entendimento entre cidadãos, num sistema social que se funda na desigualdade e se auto reproduz gerando desigualdades, cada vez mais violentas e insuportáveis. De facto, o mundo capitalista, tem das relações sociais uma visão instrumental, em consequência, submete toda a sociabilidade humana aos desígnios de uma ficção, uma espécie de "manitu" ou feiticeiro moderno - o dinheiro ou, se preferir, a moeda – projecção abstracta das relações de troca mercantil e medida de equivalência de valor dos bens, em circulação no mercado.

 

E num mundo concebido para glorificação da “mercadoria”, quer dizer, um sistema social concebido e estruturado para servir a permanente transmutação e hipervalorização dos bens transacionáveis, em que os bens produzidos são como que capturados pelo mercado e o valor de uso se evapora, na voragem da permanente procura do lucro, num mundo assim estrategicamente calculado e administrado, todas as pulsões humanas são sacrificadas no altar do lucro e da auto reprodução do sistema, em que os indivíduos concretos são moldados e reduzidos à condição unidimensional de produtores/consumidores.

 

Na realidade, um mundo que é pensado e administrado em função da “razão instrumental” ( a razão instrumental não é mais que a própria “razão do capitalismo”, isto é, a “racionalidade” do lucro e da exploração da mais valia e vincula a própria esfera política, impondo-se como como Razão de Estado) do lucro, não há espaço para outra realidade que não seja a reprodução do sistema e a permanente exploração e dominação, sem escapatória possível, no quadro do funcionamento do sistema, que remete tudo e todos à mera condição de objetos ou coisas, quer dizer, ao consabido processo de reificação das relações sociais.

 

Por outro lado, torna-se cada vez mais evidente que os tempos neoliberais que tomaram o freio nos dentes, em furiosa cavalgada, após o colapso da União Soviética num gigantesco projeto em vista a libertar o capital e os mercados de qualquer controle social, representam, não a “modernização” da sociedade, como seus ideólogos propagandeiam, mas, pelo contrário, constituiu um processo pensado e orientado para a reversão da queda da taxa de lucro, do qual resultou um brutal agravamento de problemas sociais, ou seja, mais fome, mais pobreza, desemprego, maior concentração de riqueza e mais elevados níveis de desigualdade social....

Manuel Veiga

11.2013

6 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Clarividente visão (e retrato) dos dias que estamos vivendo.

Assusta a inconfessada visão malthusiana onde a guerra aparece como solução. Ser há menos bocas a alimentar, haverá menos fome!...

Abraço e boa Páscoa

Maria João Brito de Sousa disse...

Assim é, Manuel, assim é...

Forte abraço!

Tais Luso de Carvalho disse...


Hoje passando (atrasada) para desejar ao meu amigo e Poeta Manuel, uma
Feliz Páscoa junto aos seus queridos, paz e alegria, sempre!
Um beijo

Teresa Almeida disse...

Vale sempre a pena atualizar a análise do que vai acontecendo neste mundo conturbado.

Caro amigo Manuel, um abraço pascal.

Graça Pires disse...

Sempre a deixar-nos motivos de reflexão, meu Amigo Manuel.
Uma boa semana com muita saúde.
Um beijo.

Parapeito disse...

Mais um momento para nos fazer pensar em todo este caos que nos rodeia.
Brisas doces **

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