quinta-feira, junho 09, 2022

Arfar Solitário


Abrasa o sol nesta miragem.

A distância é o voo

E a canícula. E a ave soletrando o círculo.

E o zénite...

 

E a violenta bordadura do azul no fio de meus olhos

Agitando a brisa cálida...

 

E o grito calcificado do restolho.

E o cardo a dançar no vento.

E a poeira…

 

E a gotícula lambendo a pele nua.

E os lábios gretados. E a sede das horas

E os passos sobre o eco...

E o arfar solitário.

 

Infinita esta paisagem em que me detenho

Como planície inventada

Ou voo quebrado...

 

Estridência de cigarra acesa

Ou secreta cotovia em alvoroço

Adejando por dentro


Manuel Veiga

"Coreografia dos Sentidos"

Edição Modocromia

 

13 comentários:

- R y k @ r d o - disse...

Poema lindíssimo que me fascinou ler.
.
Cumprimentos cordiais.
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

São disse...

Belissimo, um dos teus poemas que mais me agradaram.


Publiquei um desses poemas no blogue, espero que não te enfades.

Beijinho, bom final de semana :)

Tais Luso de Carvalho disse...

Essas imagens poéticas usadas nesse belíssimo poema,
esse arfar solitário, ficou lindamente encaixado, e gostei muito!

"Infinita esta paisagem em que me detenho
Como planície inventada
Ou voo quebrado..."

Maravilha, meu amigo e Poeta.
Um beijo e um feliz fim de semana que está chegando.

GP disse...

tenho andado afastada dos blogues mas hoje vim aqui e valeu mesmo a pena. Belo poema.
Bom fim de semana

Ailime disse...

Boa tarde Manuel,
Poema maravilhoso com metáforas tão ao seu jeito e que muito aprecio.
Um beijinho e um ótimo fim de smena.
Ailime

Maria Lucia (Centelha) disse...

Um sonho de poesia, palavras etéreas, inspiradas. Gostei.
Abraços, poeta.

lis disse...

É esse respirar acelerado, agitando as asas
para se manter no voo... mVeiga
Gosto muito quando te leio.
Um abraço e bom domingo

Juvenal Nunes disse...

O que se pode chamar de visualizações da ardentia.

Caso lhe interesse poderá participar em:

HOMENAGEM AOS SANTOS POPULARES

Abraço amigo.
Juvenal Nunes

Jaime Portela disse...

Um poema alentejano (um minhoto como eu nunca poderia escrever um poema destes... estou rodeado de verde).
Excelente, gostei imenso.
Boa semana, caro Veiga.
Um abraço.

Olinda Melo disse...

Poema em crescendo, com todos os elementos
a contribuir para esse "arfar solitário",
alcançando o zénite na sua maior intensidade.

Mesmo assim um voo quebrado...
Muito emotivo e expressivo.

Abraço
Olinda

Ana Tapadas disse...

Belíssimo poema...que sinto na pele!
Beijo

Smareis disse...

Um poema belíssimo que gostei muito de ler.
Uma ótima semana!
Um abraço!

Teresa Almeida disse...

È impossível passar e não dizer que me faz bem ler-te.

Aplausos.

Abraços.

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