Sim, o Estado Novo e o povo
ouviu, leu e assistiu
Sim, isto é
um “Estado Novo”
Pois é um estado das coisas
que nunca antes se viu.
Em tudo paira a alegria
e, de tão íntima que é,
como Deus na Teologia
ela existe em toda a parte
e em parte alguma se vê---
Há estradas, e a grande Estrada
Que a tradição ao porvir
Liga, branca e orçamentada,
E vai de onde ninguém parte
Para onde ninguém quer ir
Há portos e
o p porto-maca
Onde vem doente o cais
Sim, mas nunca ali atraca
O Paquete
Portugal
Pois tem calado de mais---
Há esquadra... Só um tolo se cala
Que a inteligência propicia
A achar, sabe que, se fala,
Desde logo encontra a esquadra
É uma esquadra de polícia.
Visão grande! Ódio à minúscula
Nem para prová-la tal
tem alguém que ficar triste
Unido Nacional existe
Mas não unido nacional!
E o Império? vasto caminho
Onde os que o poder despeja
Conduzirão com carinho
A civilização cristã
Que ninguém sabe ou que seja
Com diretrizes à arte
Reata-se a tradição
E juntam-se Apolo e Marte
No Teatro Nacional
Que é onde era a Inquisição
E a fé dos nossos maiores?
Forma-a impoluta o consórcio
Entre os padres e os doutores
Casados o Erro e a Fraude
Já não pode haver divórcio-
Que a fé seja sempre viva
Porque a Esperança não é vã
A fome corporativa
É derrotismo, Alegria!
Hoje o almoço é amanhã!..
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Escrito em 1935, ano em que o Poeta faleceu
dado à estampa por Jorge Sena no Diário Popular
em Junho de 1974
MV
5 comentários:
Gostei de conhecer
Abraço amigo
Uma pequena maravilha!
Abraço, Manuel!
..“Estado Novo”
Pois é um estado das coisas
que nunca antes se viu.
E Fernando Pessoa vai por aí afora,
sem dó nem piedade, apontando o dedo
a tudo o que considera estar mal.
Gostei muito de ler este poema que
eu não conhecia.
Muito obrigada, amigo Manuel.
Beijo
Olinda
Excelente escolha.
Boa semana
Abraços
Assim, Pessoa deplora
O que sentia estar mal.
Tenho pena que a melhora
Não chegasse a Portugal,
No passado como agora.
Abraço
SOL da Esteva
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