O sorriso de Cléo, a irromper sobre as lágrimas era vosível sintoma de que a crise de choro iria passar rapidamente, o que revigorava a esperança de Manuel Maria de poderem continuar a conversa e finalmente “o que fazia ali a Cléo?”, questão que o atanazava, pois que considerava ser o Município com a presidência de José Augusto Esquerdino o lugar mais improvável para reencontrar a sua amiga, depois de ter desaparecido, anos atrás, com o “semiótico”, chamado Hilário, em que andava dependurada. Desapareceu sem aviso ou despedida, como se a terra a tragasse a ela e ao semiótico, que mais parecia um aranhiço.
E, no entanto, a Cléo estava em favor com Manuel Maria, daqueles favores que são para a vida, pois o jovem teve o mérito de transformar a rapariga que “não prestava na cama.” numa mulher “competentíssima”, aliás uma experiência que, manifestamente, dá a Manuel Maria prazer recordar. Nos primeiros tempos estranhou a ausência e ainda andou a rondar a leitaria, onde a selecta clientela fazia poiso. Mas da Cléo e do “semiótico” Hilário... nada! Apenas soube mais tarde, através do seu amigo Quim Remédios, de mistura com uma das suas sentenças habituais sobre as intelectuais e as suas performances eróticas – “para a cama as mulheres querem-se burrinhas, as intelectuais não prestam”… e, como dizíamos, foi neste contexto de “erudita sapiência”, que Manuel Maria conheceu o interesse de Cléo pelo cinema, através de uma revista francesa, que o Quim Remédios lhe apresentou, com a foto de Cléo a fazer toda a capa, circunstância. aliás, que permitiu ao Quim Remédios, mais uma “brilhante” e, sem dúvida, “cavalheiresca sentença “já imaginaste as “cambalhotas que a Cléo terá dado, para conseguir esta bela foto, como capa da revista”. Era assim o Quim Remédios. Um cavalheiro e um bom amigo.
Mas deixemos, o Quim Remédios, pois para confusão já basta o que basta e regressemos ao caudal da escrita e ao sorriso da Cléo a irromper do turbilhão das lágrimas, o que para Manuel Maria era como um raio de sol por entre nuvens, a prever um dia claro. Pouco a pouco Manuel Maria. com palavras doces e gestos afáveis foi acalmando a rapariga que foi libertando-se das lágrimas e soluços. E para conforto de Cléo cavalheiresca sentença “já imaginaste as “cambalhotas que a Cléo terá dado, para conseguir esta bela foto, como capa da revista”. Era assim o Quim Remédios. Um cavalheiro e um bom amigo.
Mas deixemos, o Quim Remédios, pois para confusão já basta o que basta e regressemos ao caudal da escrita e ao sorriso da Cléo a irromper do turbilhão das lágrimas, o que para Manuel Maria era um raio de sol por entre nuvens, a anunciar um dia claro. Pouco a pouco Manuel Maria. com palavras doces e gestos afáveis foi acalmando a rapariga que foi libertando-se das lágrimas e soluços. E para conforto de Cléo e a compensar do desgosto de que, sem o desejar, fora o causador convidou a Cléo para almoçar num restaurantezi e a compensar do desgosto de que, sem o desejar, fora o causador convidou a Cléo para almoçar num restaurantezinho que abriu recentemente e apenas conhecido por meia dúzia de pessoas… o único inconveniente é ter que marcar previamente… o que se propunha fazer…
Manuel Maria cobria a jovem de atenções. Durante o percurso para o restaurante, passou o braço sobre os ombros da Cléo que se aconchegou no corpo de rapaz, saboreando ambos, em silêncio, a quentura dos corpos e o prazer que a proximidade lhes dava. Assim prosseguiam, num silêncio prenhe de cumplicidade até ao restaurante.
Manuel Maria evitava o tema que tanto desejava,
esperando o momento favorável, mas a Cléo numa tagarelice encantadora, sobre generalidades
não se abria e a resposta à pergunta “que
fazia ali a Cléo?” balançava” entre nada e coisa nenhuma. Percebeu
Manuel Maria que tinha, então, que ser ele a “espevitar” a Cléo e orientar a
conversa na direção que mais lhe convinha e, fazendo um largo rodeio Manuel
Maria, deixou cair sobre a mesa “tens
notícias do teu amigo Hilário, que nunca percebi a
vossa ligação...! o
Hilário era
muito mais velho que tu…” e a Cléo, com doçura
sorridente “porquê? não
me digas que ainda tens ciúmes…Francamente!...” E Manuel Maria atalhando
de imediato o discurso de Cléo “não se trata de ciúmes que
devo confessar sentia um pouco diz Manuel Maria num
sorriso aberto e acrescenta com ironia, “como
ambos
sabemos
minhas qualidades como namorado
eram infinitamente
superiores ao Hilário. (Manuel Maria teve é sensação de que a rapariga
corou ligeiramente) Mas o teu
Hilário, alem
de parecer um aranhiço, sabia
tudo, conhecia
tudo, falava de
tudo e esmagava o
parceiro com a sua
sapiência
e cereja
no bolo, anunciava,
profético, a morte
de Marx e do marxismo…
A Cléo ouvia Manuel Maria com um leve sorriso a espreitar os lábios, sem contudo o interromper, mas divertida .com o ataque ao semiótico Hilário respondeu, divertida “e tomas tu o meu corpo, confortas as lágrimas e trazes-me a almoçar a um restaurantezinho catita para quê? Para falar do Hilário? O Hilário foi um acidente na minha vida em tanto quanto sei, está impante de vaidade nos serviços culturais da Embaixada e dá umas aulas na Sorbonne…Mas que importa, meu querido, o teu “semiótico” não vale. um tostão furado, acredita. Manuel Maria, após estas palavras, percebeu que em breve o "mistério" do que fazia ali a Cléo seria desvendado e apertando o circulo das perguntas “ e tu que fazias em Paris.? Do teu interesse pelo cinema, tive notícia dos Cahiers du Cinema que falava teu talento como atriz e vinha ilustrada com uma foto tua ocupando toda a capa…
A jovem gostou que Manuel Maria soubesse do seu trabalho no cinema e ficou visivelmente envaidecida pelas referências elogiosas da prestigiada revista, declarou “eu tenho dupla nacionalidade, nasci em França, de pais portugueses, emigrantes, está claro, mas que tiveram algum sucesso, o que me permitiu estudar cinema e é essa a minha paixão e a minha vida, tenho amigos em França que apreciam o meu trabalho e, como imaginas, a Revolução de 25 de Abril teve um impacto muito grande em França, sobretudo, dos meios universitários e culturais e a jovem continua, abrindo agora com gosto um sorriso luminoso, por aqui estou para viver esta esta empolgante gesta coletiva que daria um excelente filme, propósito que me seduz cada vez mais…”
Manuel Maria cada vez mais entusiasmado com as
palavras claras e esclarecedoras da sua amiga, avançou sôfrego para o final, ou
seja, para um núcleo central da sua angustiante dúvida e, de rajada, sem esperar
resposta “E o José Augusto Esquerdino? Como
chegaste até ele? Sei que o conheceste
em Paris, não
é verdade? Ele conhece o teu interesse pelo cinema? Vais
fazer dele um herói de fita que te propões realizar
sobre e sobre o 25 de abril. A rapariga solta então
uma gargalhada e simulando uma reprimenda “Que coisa, Manuel Maria!
As voltas que tu dás para chegares àquilo que
verdadeiramente te trouxe novamente até
mim. . Ou julgas que sou parva?
E em tom um tanto ríspido “vá diz
o que queres saber em concreto da minha relação com José
Augusto que, ao que parece, se dispõe a partilhar-me contigo?
E Manuel Maria com uma voz
insinuante “tudo,
quero conhecer tudo!...” “Tudo é muita coisa ,
retorquiu a rapariga, mas direi o essencial!...
Quero eu dizer aquilo que podes conhecer
e que eu possa dizer…”mas ficará para outro dia,
combinei dar um jeito na Gabinete de Presidente da Câmara, que está um caos!
“E tem que
ser hoje Cléo, és cruel a mostrar-me o paraíso
para logo fechares”- disse
contrariado Manuel Maria”. E a rapariga sorrindo descontraída, com uma
expressão em voga “Olha que não, olha
que não”, aquitecto Manuel Maria!... e para teu governo sempre adianto que os
laços que me prendem a José Augusto mais que sentimentais são… laços políticos...
Manuel Veiga
,
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4 comentários:
Com a Cléo de novo em cena ouvimos falar de novo
do "semiótico" Hilário e de Quim Remédios. Este último,
por sinal, goza de toda a minha antipatia :)
Penso que o facto de a rapariga ter dito que ao
José Augusto apenas a unem "laços políticos", terá
aquietado Manuel Maria, esperando eu que ele
próprio não vá na conversa do Presidente da Câmara,
sobre "partilharem" a Cléo.
Sei que se vivem momentos confusos nessa altura e
que a liberdade de pensamento ainda baralhe um
pouco as mentes.
Gostei de saber um pouco mais sobre a Cléo e das
suas raízes.
Um abraço, Manuel Veiga.
Olinda
Paso a saludarte y te dejo un abrazo,
Passando para deixar um abraço de Natal.
e celebrando deixo tanscrito um versículo biblíco que
muito me agrada, do livro de Provérbios:
"Sobre tudo o que se deve guardar,
guarda o teu coração, porque dele procedem
as fontes da vida."
Bom Natal e um Bom Novo Ano,mVeiga
Passando, vendo, lendo, elogiando, e deixando:
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Votos de um NATAL muito FELIZ, repleto de luz, alegria, saúde, amor, prosperidade, paz, extensivo à sua ilustre família.
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Poema: “ Natal de amor e saudade “
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