Correm límpidas as águas
e leve brisa
Se anuncia nos ramos dos
salgueiros.
Deslassemos os dedos,
Lydia, e soltemos velas
Que serenas vão as
barcas!...
De rosas coroemos a
fronte
E o cais de pétalas e
lírios.
Sopremos, Lydia, as
barcas.
E arrostemos, sem mágoa,
o destino.
Pagãos e puros.
Evoquemos os deuses. E
partamos, Lydia.
Abraçados. Que serenas
vão as barcas
E as águas cristalinas.
Para trás ficam despojos.
E o tabuleiro tombado
E os dados. E o viciado
jogo. E o tributo pago.
Cativos, fomos! Que
assim, Lydia,
O quiseram os fados.
Nunca escravos.
Que poder algum
reconhecemos.
Apenas o capricho dos
céus e os ventos
Que nos guiam…
Provámos insidiosos
frutos. E seus enganos.
E os venenos. E em sua
perfídia nos jogámos.
Inteiros. E perdemos. E tudo pagámos.
Que nada devemos
Nem tememos.
Louvemos, Lydia, os
deuses
Que nos quiseram
lúcidos.
Mergulhemos nas
cristalinas águas
E partámos, Lydia. De corpos perfumados
Amemo-nos!
Antes que a noite
aconteça
E as Parcas venham…
Serenas vão as barcas
E as águas cristalinas.
Manuel Veiga
Nota: Lydia é uma criação literária de
Ricardo dos Reis
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