Estende-se a tarde em
avental de luz coada.
E no ar, trazido pela
brisa, o perfume de erva-doce
Colhida entre orvalhos e
o gosto macio
De lenções amarrotados.
Marcas
Indeléveis da explosão dos
corpos
Ao arrepio das horas
soletradas
Em contramão dos dias.
Estende-se agora a tarde
como águas
Inundando as margens.
Aluvião a fecundar
Desertos e sedes antigas.
Que os dias se contam
Por horas. E são
esparsas as marés
No alvoroço das nascentes
Em seu borbulhar festivo.
Derrama-se a tarde em
cântico de matinas
E colho essa sinfónica
ternura despojada. E todos os timbres.
E todos os afluentes e o
murmúrio
Das cascatas dentro da
memória
A declinar em madura
espera
Percurso das barcas
tresmalhadas
E ribeiras em flor. A arderem
Em delírio dos sentidos.
Manuel Veiga
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