sexta-feira, novembro 10, 2017

QUANDO VIERES - Eugénia Cunhal


Quando vieres
Encontrarás tudo como quando partiste.
A mãe bordará a um canto da sala
Apenas os cabelos mais brancos
E o olhar mais cansado.
O pai fumará o cigarro depois do jantar
E lerá o jornal.

Quando vieres
Só não encontrarás aquela menina de saias curtas
E cabelos entrançados
Que deixaste um dia.
Mas os meus filhos brincarão nos teus joelhos
Como se te tivessem sempre conhecido.

Quando vieres
nenhum de nós dirá nada
mas a mãe largará o bordado
o pai largará o jornal
as crianças os brinquedos
e abriremos para ti os nossos corações.

Pois quando tu vieres
Não és só tu que vens
É todo um mundo novo que despontará lá fora
Quando vieres.


Maria Eugénia Cunhal, in "Silêncio de Vidro"



12 comentários:

Tais Luso de Carvalho disse...

QUANDO VIERES - Belíssimo poema, repleto de sentimentos, mas sem mágoas do passado. 'Sentires' apenas para o momento em que os corações se abririam.

"Quando eu morrer, libertem meus poemas!" (Maria Eugénia Cunhal)

Beijo, amigo Manuel, um bom fim de semana.

Rogério G.V. Pereira disse...

"Não se trata de olhar para trás
e perguntar com angústia:
«que fiz? que fiz?»
Trata-se de olhar em frente
e perguntar com confiança e serenidade:
«que poderei ainda fazer?»"

Álvaro Cunhal,

Marta Vinhais disse...

Quando vieres, fica tudo completo... Porque nunca se chega a partir quando se está tão presente no coração de quem nos ama...
Gostei muito...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Teresa Almeida disse...

Poema de enorme delicadeza, sentimento libertador e maravilhosamente encenado.

Boa escolha, amigo Manuel!

Beijinho.

LuísM Castanheira disse...

caro amigo:

há seres humanos que dobram mas não quebram, fiéis às raízes e convicções, verdadeiramente humanos e que dedicaram quase a vida inteira para o melhor do seu Povo.
"- Até Amanhã, Camaradas!"...
e é tudo dito.
um abraço MV

"Prefiro
As flores que nascem ao acaso
Ao perfume das rosas
Que se mandam comprar porque é domingo.

Eugénia Eugénia Cunhal"

Ana Freire disse...

Maravilhoso trabalho de Eugénia... que confesso, não conhecia, e adorei descobrir por aqui...
Grata por esta belíssima partilha, Manuel!
Peço desculpa pela minha ausência, mas uns probleminhas de saúde de uma pessoa de família, têm-me forçado, a andar mais afastada da net... e não tenho conseguido visitar todos os blogues, com a disponibilidade que gostaria!...
Não havendo novidade, amanhã virei com mais tempo, apreciar mais alguns dos seus posts, Manuel!
Beijinho! Bom fim de semana!
Ana

Emília Pinto disse...

Não conhecia esta senhora, Manuel e, graças a ti e a este belo poema, fui pesquisar. Como sere digo, aprende-se muito neste mundo dis blogs, Somos seres que, como os demais, um dia partitemos e não há nada a fazer; a vida é muito ingrata, porque fez com que nascessemos com a certeza de que morreriamos. ; nem pedi para nascer e muito menos para morrer e ainda há quem diga que temos o poder de opção. Não acho que temos! Obrigada, Manuel e uma boa semana. Beijinhos
Emilia

manuela barroso disse...


Um "quando" que é a certeza no "pois".
Nada é "hoje" como foi "ontem" . Nunca o será.
E aqui, a certeza da viragem com a viagem: com esta ausência
outra experiência, e com ela, por causa dela, novas perspectivas.
Beijo, amigo Manuel.

rosa-branca disse...

Quando vieres...se acaso vieres claro... Passar a vida na espera do que por vezes não vem... Poema lindo que amei demais. Amigo Manuel, boa semana e beijos com carinho

Agostinho disse...

Com a firmeza de quem confia "quando viveres".
Um poema em ambiente terno e simples de esperança no futuro.Abr aço.

São disse...

Emotivo poema, este, onde brilha a certeza do futuro.

Beijos e a minha gratidão pelas simpáticas palavras no aniversário do blogue

anamar disse...

Belissimo.

Ainda agora vim de Seia = a familia Cunhal.

Abracinho

  CADÊNCIAS ... 1. Enamoramento das palavras No interior do poema. E a subversão Do Mundo… 2. Cadências mudas. Em formação De concordâncias....