domingo, outubro 28, 2018

TODOS OS RIOS SÃO A MESMA SEDE...


São os deuses por vezes traiçoeiros em seu delírio
E das pátrias decidem as bandeiras
Como destino dos homens.

Em cada dor há, porém, uma tempestade
E um golpe de mãos acesas
Sem fronteiras.

Nada do que é humano respira sozinho.
E os Povos não capricham os oceanos.
E todos os rios são a mesma sede
E crestados lábios.

E todas as fomes se somam
E todas as angústias são látego colectivo.

E em cada luta há sempre um afago indefinido
E em cada muro um grito subterrâneo
Que explode em cada gesto
De dizê-lo.

Nada os deuses nos devem!
São os homens em seu rasgo demiúrgico
Quem a si próprios se inventam. Em cada dádiva
De amor rebelde. E liberdade

E quando um Povo sofre (ou se liberta)
É toda a Humanidade!…


Manuel Veiga

(Poema editado)



9 comentários:

Ailime disse...

Poema sublime, Manuel!
«E quando um Povo sofre (ou se liberta)
É toda a Humanidade!…
»
Tocou-me especialmente o final de tão verdadeiro.
Beijinhos e continuação de bom domingo.
Ailime

Larissa Santos disse...

Sem dúvida. Adorei o seu poema. Parabéns.

Bjos
Votos de uma boa noite

Teresa Almeida disse...

"E todos os rios são a mesma sede"

E que a tua palavra se entregue livre, airosa e arrebatadora. É assim que a sinto.

Beijos, meu amigo Manuel.

Suzete Brainer disse...

Meu amigo,

Este teu poema é uma obra de arte e
inesquecível, guardo no lado esquerdo
do peito este presente.

Muito grata pela oportunidade da releitura, admirável poeta.

Bjos

Ana Tapadas disse...

Belo poema, para reler com muito gosto.
Beijo

manuela barroso disse...

Muitos e muitos parabéns , grande poeta , pela mensagem e estética linguística deste poema !
Beijinho , Manuel !

Pedro Luso de Carvalho disse...

Amigo Manuel, esse seu belo poema chamou minha atenção, em especial, nos seus últimos versos:

E quando um Povo sofre (ou se liberta)
É toda a Humanidade!…


Parabéns, poeta!
Uma boa continuação da semana.
Grande abraço
Pedro

Olinda Melo disse...

A liberdade, a felicidade, o grito de rebeldia e revolta, tudo num sentir colectivo. Todos seremos companheiros, solidários ou coniventes, e de nada nos servirá dizer que não sabíamos.

Um poema que alerta para a nossa responsabilidade em tudo o que acontece na sociedade global dos nossos dias.

Abraço

Olinda

Agostinho disse...

Admirável poema de seta certeira.
Afinal, digo eu, os deuses não se entendem: trocam Pátrias por ilusões, vendem bandeiras na orgia do dízimo.
Abraço.

ESCULTOR O TEMPO

Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos, onde me revejo. E as mãos, arados. E os punhos. Em luta erguidos…  S ons de fábrica...