Em noites
brancas e circulares da insubmissão do sangue
Basta saber
escutar para ouvir suas loucas cavalgadas
As Valquírias…
Voam distâncias.
Nuas. Apenas cobertas de luar
E a vergasta dos
cabelos. Que frenéticas sacodem
Em risos
colossais e esgares que ressoam
No eco das
montanhas
Quais
trombetas...
Evitam
encruzilhadas. E em magotes se apressam
E se juntam no
destino. Em círculo debaixo dos salgueiros.
E cantam e
dançam. E sacodem as ancas
E se mimam...
E com furor nas
gargantas, gritam. E em êxtase tremem.
E se agitam. E
se abraçam. E se incendeiam
E se cobrem de
cinzas.
E invocam as
Trevas. Num trovejar de fogo e ritmo
Soberbas erguem
o símbolo fálico. E o momento de glória.
E se encenam em
simulacro. E no sarcasmo.
Algumas se
penetram. E em delírio
Se esgotam. Em
sobressalto...
E se banham. E perfumam
os corpos.
E trocam seus
unguentos. E colhe o orvalho
E os fios de
luar em que tecem
Seus filtros...
E dulcificam o
canto. E solenes se dobram
E iniciam as
virgens com dedos de prata e lume
No mistério do sangue.
E do mênstruo.
E se louvam, filhas
de Gaia
E de Eros...
E quando a Lua
esmorece. E o Oriente se anuncia
Tingindo o céu.
Luzem então as armaduras frias
E regressam aos
leitos. E desfolham, então,
Açucenas no
peito alquebrado
Dos
guerreiros...
Basta saber ouvi-las
– as Valquírias!...
Manuel Veiga
“Do Esplendor
Das Coisas Possíveis” – pág.34
Poética Edições –
Lisboa - Abril 2016
2 comentários:
Ah, estas belas guerreiras da mitologia nórdica tão bem delineadas aqui neste alegórico poema.
Será que Wagner não sentiu um calafrio ao "ouvir" as cavalgadas destas belas Walquirias?
E que belo esplendor das coisas possíveis!
Um grande abraço,
"E se mimam", as mimalhas,
livres de preconceitos e malhas!
Não sei se o velho Wagner saberia da arte de cavalgar em toda a sela, mas que o seu génio operático no tema "A cavalgada das Valquírias" poderá induzir um simples mortal a imaginá-las à desfilada... O Poeta imaginou-as bem.
Abraço, MV
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