domingo, março 03, 2019

AS VALQUÍRIAS ...


Em noites brancas e circulares da insubmissão do sangue
Basta saber escutar para ouvir suas loucas cavalgadas
As Valquírias…

Voam distâncias. Nuas. Apenas cobertas de luar
E a vergasta dos cabelos. Que frenéticas sacodem
Em risos colossais e esgares que ressoam
No eco das montanhas
Quais trombetas...

Evitam encruzilhadas. E em magotes se apressam
E se juntam no destino. Em círculo debaixo dos salgueiros.
E cantam e dançam. E sacodem as ancas
E se mimam...

E com furor nas gargantas, gritam. E em êxtase tremem.
E se agitam. E se abraçam. E se incendeiam
E se cobrem de cinzas.

E invocam as Trevas. Num trovejar de fogo e ritmo
Soberbas erguem o símbolo fálico. E o momento de glória.
E se encenam em simulacro. E no sarcasmo.
Algumas se penetram. E em delírio
Se esgotam. Em sobressalto...

E se banham. E perfumam os corpos.
E trocam seus unguentos. E colhe o orvalho
E os fios de luar em que tecem
Seus filtros...

E dulcificam o canto. E solenes se dobram
E iniciam as virgens com dedos de prata e lume
No mistério do sangue. E do mênstruo.

E se louvam, filhas de Gaia
E de Eros...

E quando a Lua esmorece. E o Oriente se anuncia
Tingindo o céu. Luzem então as armaduras frias
E regressam aos leitos. E desfolham, então,
Açucenas no peito alquebrado
Dos guerreiros...

Basta saber ouvi-las – as Valquírias!...

Manuel Veiga
“Do Esplendor Das Coisas Possíveis” – pág.34
Poética Edições – Lisboa -  Abril 2016



2 comentários:

José Carlos Sant Anna disse...

Ah, estas belas guerreiras da mitologia nórdica tão bem delineadas aqui neste alegórico poema.
Será que Wagner não sentiu um calafrio ao "ouvir" as cavalgadas destas belas Walquirias?
E que belo esplendor das coisas possíveis!
Um grande abraço,

Agostinho disse...

"E se mimam", as mimalhas,
livres de preconceitos e malhas!

Não sei se o velho Wagner saberia da arte de cavalgar em toda a sela, mas que o seu génio operático no tema "A cavalgada das Valquírias" poderá induzir um simples mortal a imaginá-las à desfilada... O Poeta imaginou-as bem.

Abraço, MV

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