domingo, novembro 17, 2024

MÚSICA E FLOR

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Flor é uma flor, é sempre flor!...

Música é música - é outra música…

Música e flor em MI maior

Perfume de dor na dor de meu amor...


Sopro de flor - aquela dor na minha dor

Perfume de música em Dó maior.

Música e flor em redor - na dor da flor.

Música e dor de meu amor...


Sopro de música - flor de amor!

Perfume de flor em LA menor

Na dor da flor. Música e flor

Canto de musa a meu favor.


A mesma música – a mesma flor…

Timbre de flor em SOL maior

Música e flor na dor da minha dor

Em vão, a flor na música da dor!...


Guardo música e flor na dor maior.

A meu favor – canto, musa e flor.

Perfume e dor de amor maior

No canto e na dor de um trovador!


Manuel Veiga


sábado, outubro 26, 2024

Em Nome do Pai. E Louvor Da Terra-Mãe


1.Sou este chão e esta mágoa

Caliça do tempo em redemoinho

A embargar os olhos gastos…

E, no entanto, a terra desmedida

Como quem acerta contas.

 

E o fio de água e os gretados lábios

E o rumor dos sonhos.

E os ecos.

E as maçãs emolduradas

 

E o fio de prumo

Em que me despenho

E inscrevo na incisão

Do sangue

 

Rito de passagem

Em que me digo filho e pai

E me acrescento

E sou o mesmo.

 

Terra minha

E o Mundo inteiro!...

 

2. Evoco os nomes e os gestos. E o tempo circular.

E os mistérios. E os murmúrios.

 

E o cirandar das mulheres. Tecedeiras. Sábias.

Sibilas. Herdeiras de outroras. E auroras.

A raiar tarefas. Lestas.

E a distribuírem o pão.

Por cabeça

 

E a canícula.

E a sesta.

E o benigno freixo…

 

E a ceifa. E o vinho, em círculo, de mão em mão

Servido. E de boca em boca sorvido.

E as gargantas ávidas.

E a revoada de tordos espantados.

Em meus olhos.

Agora húmidos.

 

E as jaculatórias. E as preces. E os cânticos.

E os sinos. E as festas. E o donaire das raparigas

E púberes seios em meus dedos

 

E a poeira dos caminhos

E fio invisível das coisas

Que religam. E tecem. E se intrometem

E nos guardam.

Bênçãos. Sejam!...

 

E o trilho de meus passos.

E a cavalgada dos sonhos. E os enganos.

E os fracassos. E as partidas. E os retornos.

E aquele abraço. Erguido do chão

Como quem aguenta todo o peso do Mundo.

Em seus braços…

 

3.E o nome do Pai. E em louvor da Terra-Mãe.

Evoco o gesto largo. E nobre.

De quem semeia

E pouco colhe.

 

Sou esta raiz. E esta sede

E o fio de água

E esta poeira

Calcinada…

 

 “Ecce Homo!…”


Manuel Veiga

terça-feira, outubro 01, 2024

A CARTA QUE NUNCA TE ESCREVEREI


Uma carta que a memória guardou no cofre das emoções.

Sem resguardo. Antes, com a desenvoltura das palavras presas numa sensualidade sentida ao sabor dos parágrafos descritivos, numa viagem ao futuro do antes, do agora, do que sempre o escritor escreve   do que, sendo ficcionado, foi sentido, pressentido, ou não.

Ou apenas um sério fascínio pelo corpo desejado.

Uma carta antiga para a moderna idade dos que amam e se projetam em cada palavra nua.

Um dizer envolvente. dizer de pontes e de atravessamentos que nos leva num selo imagético a caminho de um agora, presente, novo e acutilante.

Este é um registo que se cola e cala.

Uma carta registada com aviso de receção em que o Manuel

Veiga nos cativa e convoca a “sim, escreve-me, lendo-me”,“recebe-me e traduz-me”.

Somos a memória dos sentimentos sentidos.

Somos assim com  o autor, Manuel Veiga.

 

Isabel Mendes Ferreira


terça-feira, agosto 27, 2024

AS CORES DO POEMA

 

Leve fissura apenas. Milimétrica

Tensão da espera

A corroer por dentro

Sem plano

Ou guia...

Apenas o murmúrio de água

Sobre a pedra. E a alquimia do verso

E o incauto morfema

E a inquietação do poeta

A engendrarem as cores

Do poema.

 E a dissolverem-se nas dores

E alegrias da hora presente

E na escrita maior

Do Mundo!...


Manuel Veiga

 

terça-feira, julho 30, 2024

COMO SE FORAS INVENÇÃO MINHA

 

Antes do magma .e do rasgar do Tempo

Nesse etéreo lugar - enunciado das coisas

E de todos os nomes

 

Nessa órfica placenta, onde

Se desenham todos os rostos

E todas as coisas fluem

Em sua mútua simpatia

E singular gesto

De se enunciarem

 

Nesse mundo orquestrado

Na usura de absolutos silêncios

E ignotos territórios ..

 

No infinito-presente

De todas as singularidades

 

Ergues-te do barro e te sublimas

E explodem, então, todas as cores

E se fecundam solares

Todos os prenúncios

 

E digo-te então Sibila

E te nomeio depuradora

De essências

 

Como se foras não apenas fantasia

Mas poema. E amorosa

Invenção minha…


Manuel Veiga

domingo, julho 21, 2024

Um Corcel a Latejar no Peito

 

Felizes, os dias felizes e os dias de sol

Luminosos como a inocência de uns olhos inocentes

E as amáveis coisas que nos rodeiam

E a delicadeza dos nomes

Que enunciamos…

 

E um corcel a latejar no peito

Pronto a soltar-se no inesperado

Em fusão de Liberdade…

 

E os ardentes anseios que vinculam

E ligam e religam a consciência dos homens´

Ao devir da Humanidade.


Manuel Veiga

sexta-feira, julho 12, 2024

Precários Meus Gestos


Assento meus passos nas raízes

Que talham meu porte

E prossigo

 

Minha sede

É murmúrio das nascentes

E calor de solstícios

 

Por vezes me detenho. Nas margens

E no encantamento das paisagens

E demoro-me

 

Na lágrima. Que inesperada

Faço minha. E bebo em tremura

De lábios gretados.

 

Sou onde me fixo. E os ventos

Me levam. Precários são meus gestos

E serenos meus caminhos.

 

Manuel Veiga

sábado, junho 29, 2024

SERENAS ÁGUAS


Irrompem do donaire primaveris

Cascatas. Que o outono acolhe

E matizadas cores.

 

São os olhos pomares. E veredas

Debruadas. E o amável gesto

De colhê-las. Maturadas na espera

De bocas sôfregas…

 

Libertos os corpos e

Serenas águas!


 Manuel Veiga

sexta-feira, junho 14, 2024

POMARES EM NOSSOS LÁBIOS

 

Uma leve sombra

E algumas palavras crespas

Pequena ruga na cambraia

Dos afectos – murmúrio de brisas

A adejar na pele…

 

Em verdade – coisa de nada!..

Apenas frémito alvoroçado

E o cântico de água

Na cascata

De teus olhos

Que os jardins onde poisamos

São pomares em nossos lábios

E aroma de amores

Perfeitos

A dizerem-se sede

E campo de folguedos

Tão nossos....


Manuel Veiga

 

sexta-feira, maio 31, 2024

MURMÚRIOS

 

 

Passeio-me nas ondas de teu corpo

E o oceano é alvoroço.

E naufrago. E me entrego

E em ti desembarco

E te percorro. …

 

E em ti me espraio

Em murmúrios

De limos

E em sinfonia

De corpos…

 

Manuel Veiga

 

sábado, maio 18, 2024

NA ORLA DOS LÁBIOS...

 

O poema desenha-se na orla dos lábios

Na íntima tensão do verbo antes de explodir

Itinerário de sombra rente à luz

 

Ou murmúrio subterrâneo de gestos

A florirem no rosto imaculado das coisas

Antes de acontecerem.

 

Como se Eros fosse falua

A singrar oceanos ignotos e o corpo

Uma chama branca a arder

No cruzamento das rotas e

No movimento líquido da Palavra

A alagar-se em fogo.

Sem metáforas…

 Manuel Veiga

MÚSICA E FLOR

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