Sabem quem é Milton Bearden? Não? Não faz mal, eu também não sabia até há escassas horas. Pois bem, Milton Bearden, é um ex-agente secreto da CIA, e recentemente, foi assessor de Roberto de Niro, na realização do filme “Good Shepherd”, que narra a história da espionagem norte-americana, desde o post guerra, até 1961.
O filme, estreado recentemente nos Estados Unidos, tem a produção de Francis Ford Copolla e descreve “a historia secreta do nascimento da CIA”, ou seja, pretende ser crónica da devolução dos “ideais democráticos” norte-americanos às ruínas europeias do post guerra e acaba por ser, ao que parece, a narrativa da estratégia norte-americana, na sistemática e clandestina destabilizaçao de países e regimes políticos, em função dos “interesses nacionais” dos Estados Unidos.
Esperemos que o filme seja exibido em Portugal. Será?!... Veremos, como diz o cego... De qualquer forma, proponho-me despertar o vosso interesse com uma breve síntese da entrevista de Milton Bearden, a Luca Celada do jornal italiano “Il Manifesto”.
Convém primeiro esclarecer que Milton Bearden não foi um espião qualquer. É senhor de um invejável currículo, ao longo de uma carreira trinta de anos na CIA. Foi chefe da estação nigeriana nos anos 70, responsável das operações clandestinas no Sudão, destacado no Paquistão para treino dos “mujadines” nos anos 80; e, no final da guerra fria, com tarefas de supervisão nas operações de destabilizaçao no leste europeu.
Assim, as suas opiniões são naturalmente fundadas e esclarecedoras. Por exemplo, à pergunta do jornalista se não haverá um “problema ético intrínseco, uma contradição, nas ingerências clandestinas por parte da maior democracia mundial nas outras democracias”, Milton Bearden reconhece, com desembaraço, entre outras “malfeitorias”, que a CIA impediu Togliatti de formar governo em Itália, mediante a compra de votos nas eleições de 1948.
- “Talvez tivéssemos podido não o ter feito... Teria sido melhor?!... Isso devem ser vocês a dizê-lo, não eu!...” – acrescentou, sobranceiro.
A questão é que, na devida altura, os italianos foram “impedidos” de “dizê-lo”, por intervenção directa e ilegítima norte-americana ...
E, perante a insistência do jornalista se “interferir na autodeterminação dos povos é compatível com um país que pretende representar a democracia no mundo”, Milton Bearden não tem dúvidas. Falando, naturalmente, como antigo quadro da CIA, esclarece:
- “Essa é uma questão que nos leva directamente aos dias de hoje. Julgo que chegados a este ponto, o que devemos fazer é olhar-nos na cara e perguntar-nos honradamente o que estamos fazendo. Realizaremos as nossas ideias no Médio Oriente? Desagrada-me dizê-lo, mas provavelmente não...”
Nada de verdadeiramente novo ou surpreendente, dir-me-ão. É verdade. No entanto, julgo existir, na matéria, um “must”: o filme (assim ele corresponda às expectativas). E um “déficit”: a lacuna sobre a “conhecida” intervenção da CIA em Portugal, post revolução... Quem se atreve?!...
Em qualquer caso, em matéria tão esconsa, é sempre bom conhecer a opinião de um profissional...
Fonte: Sin permiso
16 comentários:
Fico aguardando com interesse, embora neste tipo de coisas interrogo-me sempre do que está por detrás das versões. Um abraço
Com a HFM também fico com curiosidade, embora seja para mim altamente suspeita qualquer entrevista de um espião! Nunca consigo esquecer que eles, por definição, são "Masters in disguise"...
Uma coisa é certa. Penso que 2 dias depois da revolução de Abril, era eu um jovem técnico numa empresa e era suposto ter a visita de um americano, que vinha fazer a manutenção de um equipamento. Quando ele me telefonou para confirmar eu disse-lhe que talvez fosse melhor adiar, ao que ele respondeu calmamente "Não há problema, isto amanhã está tudo calmo e já passou".
Sabes, tristemente duvido que o filme traga algo de novo. Passará cá, concerteza. Nesse aspecto a nossa sociedade deve ser das mais abertas e tolerantes. Nesse aspecto...
Muitos filmes têm focado a intervenção americana em vários locais, só que isto de ter um espião de elite como assessor não é lá qualquer coisa... E ficaremos a saber aquilo que já sabemos, sem "saber".
Quanto à intervenção em Portugal, cheira-me que para a CIA deve ser "peanuts" comparada com outras que têm feito. **
Vamos esperar pela exibição do "Good Shepherd". São filmes que vejo sempre com interesse.
Quanto à "intervenção da CIA em Portugal, post revolução..." há por aí gente que poderia dizer umas coisas, assim o quizessem (ou pudessem) fazer.
Vamos tateando estes assuntos, mas será que viremos a conhecê-los na sua verdade toda?
Vamos ver. Ou, por outro lado, não vamos ver. Só nos deixam presumir. Quanto à intervenção na revolução de Abril, há quem saiba muito. Há quem tenha encomendado o serviço. Há quem ande por aí mascarado de cidadão acima de qualquer suspeita. Eu não sei nada. Mas ando cá há já tanto tempo...
Um abraço.
É como diz o ditado: "zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades"
O que diz esse Ex-agente não é nada que a gente não saiba já. Mas é bom ouvir da boca de quem está por dentro. Estou convencido que o filme,se passa nos EUA, também passsará cá. Eles sabem que à maioria das pessoas estes problemas
não dizem nada. A informação que nos chega é tanta e em tal catadupa e tão contraditória e tão propositadamente destinada a baralhar, que poucos são capazes de dela extrair o essencial
E triste, mas é assim
Um abraço
e seguramente que para aclarar esta esconsa matéria seria de bom tom talvez consultar a Lily Caneças.....não?????????
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brinco. claro. mas este "lugar" existe?
existe mas muito mal frequentado...))))
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beijo.
Meu amigo, grato pelas informações e sugestão. Certamente um que assistirei.
De cá envio o meu abraço fraterno pra ti.
Estou um bocadinho de fora acerca deste assunto, mas aguardo conclusões.
Um beijinho e Bom Wk
Cris
Passei para desejar óptimo fim-de-semana e apreciar esta interessante página, onde impera a qualidade e bom gosto.
Oportuno!
Também estou curioso quanto ao filme, pela temática e pelo De Niro na realização.
Abraço e UM GRANDE 2007!
P. S. O sacana do Carlucci ainda não esticou o pernilongo... e também teria muito para contar... :)
http://en.wikipedia.org/wiki/Frank_Carlucci
Num post de 25/02/2005, trancrevo um texto de Oliveira Martins que, julgo, vais gostar de ler. A certa altura diz: matar, é a regra de todo aquele que não soube viver!
Bom fim de semana.
Há sempre um estranho alguém por perto...
Abraço
Paulo
A espionagem voltou à ribalta.
Pode significar várias coisas.
De uma delas estou plenamente convencido: está em curso um reequilíbrio de potências: EUA, Inglaterra, Rússia e China. Cada uma com mais poder que as retantes em esferas específicas. A morte do espião russo em Londres poderá ser sintomática.
Um abraço
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