“A Confederação Nacional dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) fez uma manifestação que paralisou Lisboa. Ao que parece, a CGTP tornou-se a organização social que melhor enquadra o descontentamento social e que mais oposição faz ao Governo.
Mobilizar mais de cem mil pessoas não é fácil, mas a CGTP apenas está a dar voz e enquadramento legal ao descontentamento gerado pela acção do Governo, como, aliás, deve ser feito nas sociedades democráticas. Num país onde é hábito concluir que não há sociedade civil actuante, afinal quando o “dumping” social atinge as pessoas estas reagem e manifestam-se.
É estranho que, em resposta, o Partido Socialista venha radicalizando um discurso anti-sindical. É dos livros que os partidos existem enquanto organizações políticas e têm representatividade enquanto têm ligação à sociedade. É dos livros que também os partidos devem manter laços com a sociedade, através da sua ligação a organizações da sociedade civil.
É ainda dos livros que a forma clássica dessa ligação se fazer nos partidos de esquerda é através das organizações sindicais. Acresce que, (...) historicamente, os partidos socialistas democráticos têm as suas relações profundas com o mundo do trabalho ou mesmo raízes nele. É certo que o PS não nasceu do sindicalismo. Está até estudado que é essa a razão para que o PS seja historicamente um dos partidos mais à direita da Internacional Socialista.
Mas também é sabido que essa ausência de raiz sindical e as circunstâncias históricas que ligam ao Partido Comunista a única central sindical à época do 25 de Abril, levaram logo após a Revolução, o PS, através de Salgado Zenha, a protagonizar a luta contra a “unicidade sindical” e a criar a UGT. O PS colmatava assim a sua falta de costela sindical (...).
Ora, o partido que tem na sua história estes factos dificilmente consegue fazer perceber que o seu adversário principal seja os sindicatos (...), dado que são as organizações sindicais a única forma orgânica de enquadrar socialmente o trabalho e as sua reivindicações.
E quando um partido, que se diz socialista, acha que não só pode ignorar a voz da rua, como eleger como adversário os sindicatos que enquadram os protestos sociais, podemos estar perante um grave problema de autismo no PS e no seu Governo em relação ao pulsar da sociedade...”
São José Almeida – in “Público” – 10 de Março de 2007
Compreendam-me. Diria eu melhor que estas palavras insuspeitas?!...
sábado, março 10, 2007
Outras Leituras XIII - Autismo, autismos!
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30 comentários:
A questão não estará tanto no facto de não ouvir as vozes da rua.
Mas sim no facto da surdez não se estender às vozes dos salões.
Mais do que insuspeita a análise da São José Almeida. É bom que apareçam vozes destas a dizer preto no branco o que muita gente vê mas não sabe teorizar.
A atitude do "Partido Socialista só demonstra que de socialista não tem nada. Pois se logo à partida o seu principal fundador, Mário Soares, decidiu expressamente metê-lo na gaveta! E não é só o PS. Os Orgãos de informação não deram, nem de lomge nem de perto, o relevo que a grandiosidade da última manifestação da CGT merecia.
Ainda bem que há que esteja atento e tu és um deles
Um abraço
como Tu e lês.....:))))))))))
beijo.
obrigada.
(piano)
"podemos estar perante um grave problema de autismo no PS e no seu Governo em relação ao pulsar da sociedade...”
É bem possível. É certo que este PS é um PS eatranho. Talvez a razão esteja na "falta da costela sindical"
Mas alguns (muitos) sindicalistas não estarão já "acomodados" e com falta de imaginação?
P.S. - Tenho de ir providenciar, pois agora nesta remodelação "comeram" o teu blog
Abraço
absolutamente...
:))))
B.
__________________________
Insuspeitas palavras. Como as tuas.
Bom Domingo.
Absolutamente de acordo com esta análise. O PS foi sempre um partido de base social indefinida, oscilando entre umas pinceladas de esquerda e um centro alargado. Não tem, de facto, raízes que o liguem ao movimento sindical e o resultado vê-se.
Sem dúvida, esta é uma opinião insuspeita e muito lúcida. **
é o autismo que provoca tudo isto....
Há um pequeno problema nesse comentário da São Joseé Almeida, que é o seguinte: a questão do poder.
Ao PS -- seja qual for o peso sindical na estrutura partidária -- interessa pouco manifestações. Por acaso o trabalho dos media em relativizar a manifestação ajuda, mas não foi suficientemenete reconhecido...Pudera!
Que há razões de sobra para as pessoas se manifestarem, é inegável.
Sabe-se da história da ideologia, desde o sec XIX, que a relação entre sindicatos e partidos, sempre que há uma chegada ao poder é conflitual e estranha. OU os sindicatos se apagam ou quase sempre só promovem manifestações de apoio...porque ao poartido interessa que assim seja, claro.
Um abraço
e não se cansam de discutir sempre o mesmo assunto, o desesperado estado da nação, who gives a cunt
www.motoratasdemarte.blogspot.com
Discordo, mas apontei muita coisa. Boa semana, abraço,
O PS é um partido de esquerda?
Só è assim classificado porque dá jeito a toda a gente.
Dá jeito ao PS porque a sua origem está nessa área, mantêm esse eleitorado ao mesmo tempo que vão tendo um discurso que "pisca o olho à direita" para agarrar parte desse eleitorado também;
Dá jeito aos partidos de esquerda porque assim podem dizer que a esquerda è maioritária em Portugal;
Dá jeito aos partidos de centro-direita porque:
PSD- Assim è o maior partido centro-direita.
CDS/PP- Se o PS fosse intitulado de Centro-Direita o PP perdia definitivamente qualquer significado.
Factos: As políticas do PS têm sido as que mais atacam os direitos arduamente adquiridos pelos trabalhadores e mais têm servido a esganada fome do capitalismo.
Isso è esquerda?
Se è, então está bem... è um partido de esquerda.
È sempre um prazer ler por aqui, seja quem for o autor das palavras ;)
Um abraço
"Crisis? What crisis?"
... diziam os Supertramp...
Quando as Instituições se tornam demasiado organizadas, afastam-se das pessoas e do pulsar da vida real....
Muito interessante este artigo.
É velha a trama entre explorados e exploradores. Tão velha quanto a falta de união e solidariedade dos explorados, magistralmente utilizada pelos exploradores.
Também é sabido que mal está um governo que governe em função do que se passa na rua.
Se, por hipótese académica, fossem adoptadas as reivindicações de todos os grupos de pressão existentes, dos sindicatos aos patrões, do cidadão comum aos grupos organizados, havia de ser bonito.
Como é óbvio, este governo e o PS, não são autistas. Têm em conta o que passa e o que é dito, mas não seguem as propostas e reivindicações disparatadas que diariamente são feitas às carradas.
Quanto a mim, os sindicatos e outras organizações de classe, têm de ser mais inteligentes e procurar formas de intervenção mais eficazes. A fórmula da manif está esgotada, e por mais gente que se junte nas manifestações deste tipo, que é muito organizada (todos sabemos qual é a metodologia utilizada - já no tempo do Salazar o regime usava e abusava...) o efeito prático é quase sempre nulo. Joga muitas vezes, aliás, a favor da imagem do governo, pois o "zé povinho", que não é parvo, vê nesse descontentamento a face da eficácia do governo. Muitas vezes erradamente, claro, mas a verdade é que vê.
E não é por acaso que a popularidade do Primeiro Ministro continua a subir...
Os professores, por exemplo, são um exemplo disso, pois a sua imagem acabou por sofrer um grande desgaste.
Achei o artigo demasiado conotado. Gosto mais da análise política independente.
Mas o que eu digo é apenas um ponto de vista, pois não sou político nem percebo nada da ciência política. Posso estar completamente errado, por isso.
Um abraço.
Não será tudo uma questão de cor?
Num tempo em que estribado no amarelo Proença, é mais fácil falar com o cinzento Vanzeller do que escutar o "rubro" (soft) das ruas...
bluegift,
três comentários? é obra!!! agradeço, mas devo esclarecer que não estou em campeonato de audiências...
quanto a questão de fundo: sindicatos de treta por colocarem 100 mil pessoas na rua a protestar por melhores condições de vida?
seriam de certo "civilizadamente" mais "interessantes" se nos alcatifados salões do patronato os sindicatos cedessem à ilusão de que estão no mesmo barco do patrões. o "melhor para AMBOS" na tua pitoresca (e bem intecionada, de certo) expressão!...
mas que queres? neste cantinho da (in)cilivizada Europa ainda há quem não se cale e se queixe quando dói... e vá lembrando que também o corporativismo, de má memória, dizia que os interesses de patrões e empregados era o mesmo...
com simpatia...
caro Nilson,
podia (quase) remeter-te para o que atrás disse sobre os comentários de "bluegift".
no entanto, tu colocas uma outra questão: o proclamado "esgotamento" dos sindicatos e das manifestaçãos de rua.
porque será que recorrentemente esta questão vem a baila nos aparelhos e na propaganda da ideologia dominante (e de que te fazes eco)?...
por "amor" aos sindicatos, que "coitadinhos" que não sabem o que fazem?
ou será para impor o "come e cala" - que o Salazar (que tu evocas) e o seu regime usava e abusava?
é mais fácil governar na "paz social" e, ainda melhor, no "silêncio dos cemitérios", como todos (políticos ou não) sabemos...
um abraço
Uma (quase) inquestionável verdade que pode esgrimir-se contra os que apregoam que o sindicalismo anda pelas ruas da amargura é exactamente questioná-los sobre qual a participação deles próprios no movimento sindical, independentemente da bendeira sob a qual se movimentem...
Verdade, também, que os sindicatos são organizações controladas, onde não é fácil que a voz do indivíduo se faça ouvir - mesmo na presunção da defesa do interesse colectivo. Mas não é impossível.
Em qualquer caso, no lugar do Sócrates, com 120.000 pessoas na rua, eu era capaz de começar a preocupar-me um bocadinho.
Não é por mais nada, mas nesta terra de ditos brandos costumes, arregimentar 120.000 almas dispostas a dar a cara à luta já é obra...
E um autista atropelado por tanta gente, não deixando de ser autista, não vai a lado nenhum.
registo a análise. Interessante.
Grande abraço.
Certeiras!
Mas... depois das manifestações fica tudo na mesma.
Huuummm... acho que se anda a levar as «ferramentas de trabalho» erradas para os ajuntamentos...
Abraço.
apesar de não saber a quantas anda a política portuguesa da pra imaginar que não diferente daqui.
cá entre nos, os partidos estão perdendo sua ideologia e sua função.
não é por nada não, mas... ao invés dessas manifestações ruidosas, "que não levam a nada", que tal... importar mais umas novelas brasileiras, mexicanas ou norte-americanas? melhor ainda: assumir o monopólio das novelas das bandas de cá... com isso, talvez (quem sabe?), um contingente razoável de pessoas abaixo da linha do Equador, sem a cota diária de novelas "edificantes" e “instruídas”, senão por razões mais nobres, fizesse um pouquinho de exercício (ouvi dizer que caminhar faz bem à saúde!), numa manifestação desse porte?!... é só uma sugestão...
Bluegift,
Já aqui disse e hoje repito.
Este é um espaço tolerante: admite todas as discordâncias, mas não alimenta discórdias;
Nem ofensas, acrescento agora.
Peço-te por isso que metas as "palas" no sitio devido e ... partas!...
Nesse tom, aqui não és bem vinda!
Bluegfit,
agora a "menina" arma em parva ou queres fazer os outros?
este espaço não admite "discórdias, (quer dizer, "desavenças", "contrariedades","desinteligências", "desordens" etc.,etc., mas está aberto a todas as "dicordâncias" (quer dizer, opiniões contrárias ou adversas)
não suporta, porém, "palas", seja qual for a cor com se tinjam...
bem sei que não me vou ver livre de ti com facilidade - o comentário anónimo no post acima é prova disso! - mas possivelmente és paga para isso... em dólares!
é então por fixação em comunistas e carecas que aqui vens?
perdes então o teu tempo, de facto: não encontras careca que te sirva e continuo "desalinhado", imagina!
passar bem, de uma vez por todas!...
por aí também não chegas à minha careca...
para quem tem mais que fazer a tua persistência honra-me! insiste, insiste!... sabe-se lá se tanto assédio não me fará ter saudades das tuas diatribes anti-comunistas!
gosto,
sempre,
de
te
ler ...
eb...
possa não ter a mesma
"visão"
q tu...
mas aprendo...
e gosto de ler opiniões,
mts xs contrárias,
as minhas...
bj
F.
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