Implodem palavras na profusão
Dos escombros.
Ecos e ecos sobre o corpo exangue ainda...
Grau zero da dor. Que explode e se multiplica.
Já não dor! ... Apenas a imagem da catástrofe
E o frémito do grito filtrado
No espectáculo do horror!...
Estamos vivos. A dor dos outros é nosso medo.
Visceral. Que esquecemos depois da voragem.
E do desastre que contabilizamos no deve e haver
Dos mortos. E dos milhões em que amortizamos
Nossos cêntimos – pródigos que somos no azar
Dos outros...
No ar a dantesca tragédia e imagens do insólito.
Heroísmos inumanos em lente côncava
Objectos fugazes na ordem comunicacional
De pivots e bons sentimentos.
Em que ardemos:
- Campeões que somos de piedades doces!
Aqui estamos. Anestesiados e perplexos.
Quem, porém, na genuína dor?
Quem da miséria que sobra
Antes e depois?
Quem no desesperado sopro que da morte
Se faz vida?
Ai de ti, ai de mim
Ai de nós, Haiti...
sábado, janeiro 16, 2010
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7 comentários:
Dolorosamente belo.
Abraço
Ai de nós, Amigo, perante a dor inominável.
Oitocentos anos depois, as dantestas tragédias pouco têm a ver com as daquele tempo de trevas. Grande parte das consequêmcias das hoje existentes são um produto da dita "civilização".
Abraço
um belo poema retratando uma realidade dolorosa.
meus parabéns pela inspiraçao.
um beij
as imagens chegam, nós assistimos "perplexos".
difícil nomear a dor.
mas este poema revela-a, faz pensar, envolve-nos na tragédia.
abraço.
Amigo-irmão, tuas palavras me chegam - irmãs, irmãs próximas.
Fabuloso texto!
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