sábado, janeiro 16, 2010

Haiti I

Implodem palavras na profusão
Dos escombros.
Ecos e ecos sobre o corpo exangue ainda...

Grau zero da dor. Que explode e se multiplica.
Já não dor! ... Apenas a imagem da catástrofe
E o frémito do grito filtrado
No espectáculo do horror!...

Estamos vivos. A dor dos outros é nosso medo.
Visceral. Que esquecemos depois da voragem.
E do desastre que contabilizamos no deve e haver
Dos mortos. E dos milhões em que amortizamos
Nossos cêntimos – pródigos que somos no azar
Dos outros...

No ar a dantesca tragédia e imagens do insólito.
Heroísmos inumanos em lente côncava
Objectos fugazes na ordem comunicacional
De pivots e bons sentimentos.
Em que ardemos:
- Campeões que somos de piedades doces!

Aqui estamos. Anestesiados e perplexos.
Quem, porém, na genuína dor?
Quem da miséria que sobra
Antes e depois?

Quem no desesperado sopro que da morte
Se faz vida?

Ai de ti, ai de mim
Ai de nós, Haiti...

7 comentários:

jrd disse...

Dolorosamente belo.
Abraço

Licínia Quitério disse...

Ai de nós, Amigo, perante a dor inominável.

lino disse...

Oitocentos anos depois, as dantestas tragédias pouco têm a ver com as daquele tempo de trevas. Grande parte das consequêmcias das hoje existentes são um produto da dita "civilização".
Abraço

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um belo poema retratando uma realidade dolorosa.

meus parabéns pela inspiraçao.

um beij

© Maria Manuel disse...

as imagens chegam, nós assistimos "perplexos".
difícil nomear a dor.
mas este poema revela-a, faz pensar, envolve-nos na tragédia.

abraço.

batista disse...

Amigo-irmão, tuas palavras me chegam - irmãs, irmãs próximas.

M. disse...

Fabuloso texto!

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