Talvez neste horizonte
breve o fio de água
Despenhando-se na
memória. Como esta fraga.
Ave planando sobre a
presa e o repentino som
Da pedra. Granito
ardendo no íntimo silêncio.
Como pomos de fogo
calcinados de azul...
Debruço-me. Talvez a
água agora seja apenas
Mãos no gesto de
bebê-la. E a ave esta rapina.
Nem voo, nem pássaro
sagaz. Ausência ainda.
Pura. Gavião e pomba
desenhados no corpo
Do desejo. E meus
olhos bêbedos de lonjura.
O vento que agora
afasta a cinza é o mesmo
Embora. E a litania é
eco no coro deslizante
De meus passos. Não a
vereda palmilhada.
Nem as vestes. Ou o
sangue seco dos espinhos.
Apenas rumor de fogo
na palavra celebrada.
Descalço e de bordão
como antigos monges
Colho a folha do
carvalho. E enfeito os dias
Porta em porta, caminheiro.
E no portal de mim
Me acolho exausto. E
mordo e rasgo.
E clamo: “Casa em que me
guardo.
Terra quanta vejo!...”
14 comentários:
...até que todas as portas se abram,
escancaradas
(belo, isto)
Casa onde somos autênticos e as caminhadas fazem sentido.
beijo
Muito, muito bom! Imagens duras, incisivas, rasgantes...
Muito, muito bom!
Beijinho
Talvez um dia tenhas descanso
em vida mas nesse dia não estarei cá eu para te ver meu irmão poeta
Um poema muito bom, sim senhor!
Um forte abraço, para você!
Grande Poema!
Cá te espero, Amigo e irmão.
Abraço
Me comove esse 'idílio' com as palavras heretico, de forma encantatória que me faz ter visões,rs
Bem Picasso dizia que 'Arte é uma mentira que nos revela a verdade'
_essa exaustão de ausências, de mãos,de passos é absolutamente visual.E aflora.
Obrigada pela carga emocional que transmite sempre que leio suas sutilezas poéticas,
deixo abraços
O mote da sua poesia!
Caminhante, caminheiro que atravessas as montanhas, e conduzes os teus passos sobre as águas do rio...
Porta a porta se abre e se fecha o teu caminho...
Caminhante, caminheiro é esse o teu destino, por vezes tão solitário e tão cheio de espinhos...
http://www.youtube.com/watch?v=6NXnxTNIWkc
forte e muito bom!
:)
...porque o universo é a nossa casa.
Abraço
Forte e muito bom.
Assim me sinto:
« E no portal de mim
Me acolho exausto. E mordo e rasgo.»
bjs
Nunca o regresso tem fim.
Obrigada por partilhar este dizer... Sublime!
Beijo
Porta em porta,
que se abram todas...
Tão bom de se ler, excelente!
Bom fim de semana.
Beijo
Ainda me hás-de fazer uma sessão nas Noites, pá. Tu, que nem sabes se jeito tens para um poema... Se calhar, por teres em ti muitos.
Abraço.
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