terça-feira, janeiro 20, 2015

NO LIMITE DA PALAVRA...

Para além do Além. No limite da Palavra
Onde o sentido colapsa. E desamparado é partícula.
Ou onda. Ou centelha estrelar.
Ou combustão fria...

Nesse território inacessível em que o Verbo
Se faz Desígnio. E as imaculadas coisas
São apenas o expectante barro das origens.

Nessa caligrafia selvagem do Fogo
No íntimo da pedra. Antes da sarça.

E na inocência dos sinais (pre)nunciados
 - Arrepio de prazer, tempestade ou grito –
Primeiríssimo acto de nomear o Outro. Em que Luz se faz.
E o Tempo se ergue para além das Trevas
E dos Abismos...

Nesse mágico momento de parto da Memória
E o Desejo é Dor. E História. E mar revolto.
E rapto. E a Montanha grito.

Arrebato meus grilhões de poeta acorrentado.
E ergo-me. E tombo. E derramo meu sangue.
Faminto.

E dissolvo-me na Voz que solto.
E no rumor da Palavra em que me digo.
E comungo a Hora. Infecta. E o destino
Dos homens. Demiurgo.

Manuel Veiga
  


8 comentários:

Traçados sobre nós disse...

Gostei muito.
Abraço grande.

Anna disse...

Palavras em tropel, como cavalos subindo a montanha, procurando o fogo... Tão belo.

Um beijo

Andrea Liette disse...

Querido amigo,

É um poema magnífico que remete a Prometeu .

Grande abraço.

Andrea Liette disse...

Voltei... porque esse instante é tão lúcido e profundo, e ao mesmo tempo sutil, esta palavra que já existe antes mesmo que a pronunciemos...

Sim, ali está a inspiração , a doçura e a dor de um poeta. Um poema que me leva à gratidão.

Um beijo.

Manuel Veiga disse...

"Prometeu agrilhoado", sim.

Majo disse...

.
~ ~ Outra inteligente dissertação, semelhante a um clamor
de trombetas épicas que anunciam um gloriso mas sofrido
génesis: a composição poética. ~ ~

Mar Arável disse...

Para alem do limite das palavras a voz solta onde te ergues e assim o prazer da poesia torna-se desafio no mar revolto da lucidez

Abraço amigo

vieira calado disse...

Achei muito interessante!

Saudações poéticas!

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