Sob a dominância dos escombros e dos dias gelados
Tacteiam os
dedos a fina película dos muros
Em que a
metamorfose da cal se desvanece
Como palavras
gastas ou fomes caladas
Sem reverso...
Somos esta
profusão de sombras por onde sobem
Como larvas
tecendo o casulo e a teia nossas dores
Na amargura dos
dias e no degredo das paisagens
Clarins sorvendo
a alvura do silêncio
E sem nada mais
restar que o sopro
E a inversão
metafórica das vozes em polifónicos
Cânticos
calcinados...
Nada sugere
outra luz ou outra vibração
Que não seja o
lusco-fusco e a palidez dos dias saturninos
Ou auroras de
frio...
E no entanto o
grito sufocado dos dedos
E os lábios
gretados balbuciam inesperadas correntes
E águas soltas e
margens extravasando percursos
Percorridos.
Subtis incandescências
no topo das montanhas
Ou o delírio de
pássaros
A balancear o
voo...
Manuel Veiga - in "Poemas Cativos"
12 comentários:
"E no entanto..." há a poesia. E que bela se faz às mãos do poeta.
Lídia
Tal como os pássaros, quisera eu fazer voos delirantes.
libertos
estes teus versos
"O delírio de pássaros"
a vertigem do voo...
Muito belo. Beijos.
Querido Herético,
Ainda temos um "no entanto" para extravazar nossas águas em versos cativos, verdadeiros cânticos de uma aurora boreal!
Beijo!
o Poeta cantou!
e ninguém o ouviu, talvez só os pássaros.
e o delírio dos pássaros em inusitado voo sobre um País em com falta de azul e tanta coisas mais...
:).
.
~ ~ Dias que vivemos, Poeta - soturnos e saturninos.
~ ~ Um canto belo e infinitamente triste sobre os escombros.
~ ~ ~
Cantas às mãos cheias
sempre te oiço
Abraço
Estaremos pois...
Bjs
Deprimente, heretico. Muito deprimente! E para deprimente já nos basta a vida! Gosto mais dos teus voos rasantes do sonho e da fantasia...
Beijinho
Até que do cinzento se irá soltar o branco solar nas asas dos pássaros.
Abraço meu irmão poeta
Grato pela visita, herético.
A cal dos muros caiados
há-de cegar a ganância
com a brancura da razão.
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