segunda-feira, abril 02, 2018

Cálida Epifania


Neste regresso uma cálida epifania
Como se o tempo fora compasso e a memória
Movimento de cores redivivas,
A desenhar os timbres
No eco dos passos

Sou o medianeiro desse tempo
Que se funde e se solta para além da palavra
E dos actos. Respiração abstracta
Dos lugares ainda grávidos
A borbulhar ausências

Dispo-me e transido de sonhos imperfeitos
Abraço a lassidão e deixo que o corpo
Se filtre e percorra o itinerário
Das perdas. E no movimento
Das águas subterrâneas
Se derrame como vestígio
E alicerce.

E que os nomes se inscrevam
Na pele ardente.


Manuel Veiga



8 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Saber-te arauto de "lugares ainda grávidos
A borbulhar ausências" ocorre-me fazer de tais lugares pontos de encontro.

E que se cheguem
a senha
pode ser uma rima

Larissa Santos disse...

Sedutor e muito bonito :))

Bjos
Um bom dia de Terça-Feira

Agostinho disse...

Num poema magnífico, o Poeta desnuda-se em ordem à lei da vida, na sua condição natural. Nos lugares de ausência as coisas - mais que sonhos por nascer- nomes que correm no eterno movimento.

Abraço

Olinda Melo disse...


Um mediador das memórias perenes e do presente,
também parte interessada nesse percurso
entre as perdas e as vitórias.

Abraço

Olinda

Teresa Almeida disse...

Epifania que o poeta considera cálida e quase indizível tal é a força e o eco dos passos. E inteiro se entrega.

E eu considero este poema excepcional.

Parabéns, amigo Manuel.

Beijinho.

Suzete Brainer disse...

Meu amigo,

Com mais tempo e calma voltarei para a
releitura e comentar este teu poema,
que é um daqueles poema obra de arte, aprecio
comentar com atenção e como o poema
merece!...

José Carlos Sant Anna disse...

Caro Manuel,
O que dizer? Essa cálida epifania é que me desperta depois do recesso que a mim concedi!
E não deixo que nada mais sobrevenha ou se intrometa enquanto o poema ante mim se agita!
Forte abraço,

Ana Freire disse...

Somos o que somos... com tudo o que temos... e com tudo o que perdemos... com tudo o que aprendemos a conservar... e com tudo o que não soubemos manter... é nesse material... em que a realidade vai amassando os nossos sonhos e as nossas memórias... que vamos alicerçando a nossa existência...
Um belíssimo trabalho, Manuel, que tão bem descreve... de que somos realmente feitos!
Beijinho
Ana

FRÉMITO

Fremente esvoaçar da pele em murmúrio (Quase) mudo. Levíssimo sopro de teus braços A envolver o arfar do peito em círculo fechado Tão íntimo...