"Trabalho a pedra bruta,
afeiçoando,
Como vento penitente as
impurezas
Que ferem a harmonia do
universo.
E assim a transformo em
pedra cúbica
A letra que falta na
palavra
Perdida no silêncio das
acácias.
Tomo outra pedra, outra
ainda e construo
Pedra a pedra no seu
lugar exacto,
O sonho antigo,
ogiva-catedral.
Alguém decifrará esta
mensagem
Como uma flor azul
desabrochando
Sílaba a sílaba no
mármore do Tempo."
António Arnaut (1936/2018)
In “RECOLHA POÉTICA” –
Coimbra Editora
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ANTÓNIO ARNAUT desde
jovem se envolveu na oposição ao Estado Novo. Participou na comissão da candidatura presidencial de Humberto Delgado, em Coimbra, em 1958. Foi
arguido no processo resultante da carta dos católicos a António de Oliveira
Salazar, em 1959. Foi candidato à Assembleia Nacional, pela Comissão Democrática
Eleitoral, no círculo de Coimbra, nas eleições legislativas de 1969.
Militante
da Acção Socialista Portuguesa desde 1965, foi co-fundador do Partido
Socialista, em 1973, na cidade alemã de Bad Münstereifel, tendo sido seu
dirigente até 1983.
Advogado, político, antifascista, poeta e Homem íntegro!
8 comentários:
Um poema que muito diz do seu autor, a quem são tecidos os mais rasgados e merecidos elogios. Que bem escolhido este poema, Manuel Veiga! António Arnaud também foi poeta. E que bem sabia lapidar a palavra!
Junto-me à tua homenagem e faço minhas as tuas palavras.
Grande abraço.
António Arnault é um exemplo a seguir, nomeadamente para os políticos.
Homenagem merecida.
Bom fim de semana, caro amigo Veiga.
Um abraço.
Apreciei imensamente este poema, um grande Poeta que irei
buscar mais poemas dele, este sabe da Poesia como arte
numa dimensão maior:
"Alguém decifrará esta mensagem
Como uma flor azul desabrochando
Sílaba a sílaba no mármore do Tempo."
Muito grata pela partilha deste grande Poeta (biografia)
e sua Poesia magnífica, caro amigo Manuel.
Bjs.
Poema maior! Como decifrar a mensagem na sua justa medida?
Vê-se pela sua obra e por tudo o que viveu que António Arnault foi um homem de causas e soube mostrá-lo, procurando construir pedra a pedra uma sociedade melhor.
Sejamos nós dignos do seu legado.
Obrigada, Manuel, por esta justa homenagem.
Abraço
Olinda
Também eu lhe fiz uma homenagem, pelo Grande Homem que ele foi, mas, desconhecendo por completo esta sua veia poética. Foi preciso que a sua caminhada terminasse para que eu o conhecesse verdadeiramente. Ainda bem que houve mais pessoas que o tivessem conhecido na sua plenitude. Obrigada, Manuel por me dares a conhecer este belo poema. Um bom fim de semana. Um beijinho
Emilia
Que desta matéria firme e justa se vão ausentando os Homens da vida é evidente. Nas o meu receio é que o Mundo fique entregue aos gananciosos da cartola que dispõem de gente sem escrúpulos e espinha dorsal.
Uma excelente homenagem ao António Arnaut.
Abraço.
Caro amigo Manuel não conhecia António Arnaut. Este poema diz muito do talento do poeta. Este seu poema, “Pedra-Palavra” lembrou-me João Cabral de Melo Neto, que é um dos três melhores poetas brasileiros. Quem sabe eu tenha a sorte de encontrar em nossas livrarias algum livro de António Arnaut.
Um excelente domingo.
Grande abraço.
Pedro
Um Homem que merece todas as homenagens.Que a maior seja conservar o Serviço Nacional de Saúde !
Abraço, amiga, bom feriado
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