Nada do que ficou dito
merece outro registo
A não ser o vácuo aceso das
palavras
Que se entretecem irrestritas.
Na verdade que importa o
tempo e o modo
Em que as palavras foram
ditas? Depois de escritas nada
Nas palavras ditas
permanece noutras palavras
Que fenecem já mortas. Antes de
serem escritas…
Desditas as palavras continuam
ditas!...
E na verdade inscritas
noutras palavras
Que embora ainda não
ditas serão logo desditas.
Cacofonia das palavras
ditas. Tempo e Modo e o vazio
Das palavras que uma vez
ditas serão logo escritas
No som das palavras que embora
desditas
Serão sempre ditas…
… Retomo o discurso no
ponto em que estávamos!
Manuel Veiga
... E, no entanto, as palavras podem ser tão belas!
11 comentários:
O ciclo é vicioso, ainda que sempre diferente. Como este poema, feito de palavras já ditas...
Excelente, gostei imenso. Parabéns pelo talento.
Caro Veiga, um bom fim de semana.
Abraço.
" Palavras leva-as o vento", mas o vento nāo leva as marcas que deixaram ao serem ditas; as palavras são perigosas e por isso devem ser bem pensadas antes de ditas ou escritas; não há palavras desditas por mais que tentemos dizer que não eram aquelas que queriamos dizer ou escrever; foram ditas e a sua marca ficou funda e nāo há como apagar; podemos apagar as escritas, mas antes de serem lidas; nāo há nada que guarde tão bem as palavras como a nossa alma que as retem para sempre, em forma de cicatrizes ou em forma de sorrisos ao serem recordadas. O papel não é um lugar seguro...podemos rasgá-lo e lá se vão as palavras...até que voltem a ser ditas, até que de novo sejam escritas. E lá vão elas, como a vida, sempre em frente, ora ditas, ora escritas, mas, creio...nunca desditas.
Finalmente cheguei aqui para me deparar com palavras tão bem escritas e que levaram a que outras aqui ficassem inscritas. E assim são as palavras de boca em boca ditas e por todo o lado escritas e inscritas. Interessante!!! Um beijinho e um bom fim de semana
Emilia
'as palavras sao como flechas; atiradas, nada as faz regressar ao arco."
(palavra, que nao percebi nada...desse ponto onde estavas, mas concordo contigo: "... E, no entanto, as palavras podem ser tão belas!").
acertaram em alguém e eu nao sei quem...
um abraço, caro MV
Caro amigo Manuel,
Não perguntei se posso entrar porque encontrei a porta aberta.
E aproveito para dizer que Maria Emília já traduziu tão bem as palavras escritas que não irei eu desdizê-las, se estão bem ditas pelos dois poetas.
E vamos lendo as ditas e "adivinhando" as entreditas...
Abraço, caro poeta!
Caro Luís Castanheira,
as palavras que publico no blog não têm destinatário concreto, são destinadas simplesmente a quem me concede o privilégio de as ler.
dito de outra maneira - não envio "recados" pessoais nos textos que publico.
o "Poema Hipermoderno" foi-me "soprado" pela recente leitura do livro "Os Tempos Hipermodernos" - Gilles Lipovetsky e Sébastien Charles - Edições 70 - Lisboa, Nov.2014
abraço
Palavras para quê? Fabuloso. :))
Hoje, do Gil António:- Lágrimas em pingos de amor
Bjos
Votos de uma boa noite
Penso eu que as aliterações e os trocadilhos ( em que és , de resto , mestre) , personificam as palavras . E nós , corremos atrás da sua ( tua) beleza !
Beijinho , querido amigo Manuela
( as minhas lacunares presenças deve- se a uma “multi resistente” que me tira há muito as palavras ...)
Boa tarde Manuel,
As palavras quando ditas e desditas são sempre belas e proporcionam, como neste caso, magníficos poemas.
Gostei muito.
A música é linda e gostei de a recordar.
Beijinhos e um bom fim de semana.
Ailime
Meu amigo Manuel, também gostei do comentário da Emília, tão bem elaborado sobre as palavras ditas, o qual, algumas se transformam em poderosas armas de destruição, prefiro as não ditas, essas, pelo menos, deixam um fio de generosidade.
Beijo, um excelente fim de semana.
Palavras puxam palavras, dizem-se e desdizem-se ao sabor das conversas. Ou não. Mas sim, há que recomeçar sempre, do mesmo ponto ou até de outro qualquer.
:)
Fascinante exercício, meu amigo Manuel! Entretecer palavras e voltar ao "ponto em que estávamos" acontece tantas vezes! O encadeamento está perfeito. E o apoio musical também.
Beijinho.
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