quarta-feira, novembro 14, 2018

ARGILA DO SONHO


Na pele dos dias um arrepio da Memória.
Afluentes a percorrer por dentro os veios
E a argila do sonho. E o destino da água.
E o sortilégio. E a imensidão do lago...

Há neste arfar dos homens um destino mudo.
Suspenso. Como as labaredas de um incêndio
Pressentido apenas no voo inesperado
Dos insectos. E no delírio do restolho.

Somos a massa que fecunda. Elos de um percurso
Que os ventos traçam.

E de que os deuses zombam...

E, no entanto, nesta ardência da vontade (que se expande) 
Perdura uma febre e uma surda espera.
Como se a Festa de outrora
Mais que festa fosse Aurora...

Ou palavra nova
A despontar no léxico
E na gramática do Mundo...


Manuel Veiga


8 comentários:

Larissa Santos disse...

Maravilhoso poema... parabéns. Adorei :))

Hoje com: Trilhos da Solidão

Bjos
Votos de uma óptima Noite.

Olinda Melo disse...


Na Memória residem os nossos passos de outrora e convém percorrer de novo esse caminho, colhendo ensinamentos e inspiração para o nosso presente. O esquecimento não nos liberta. Sejamos realmente a "massa que fecunda". Fertilizemos com os sons da nossa Palavra a gramática do Mundo e não deixemos que os deuses tenham mais poder que a nossa própria vontade.

Gosto muito da sua escrita, meu amigo.

Abraço.

Olinda

Maria João Brito de Sousa disse...

Que esplêndido poema, Manuel.

Abraço

São disse...

Uma maravilha de poema, meu amigo, mesmo!

Abraço ezstreito

Tais Luso de Carvalho disse...

Somos a massa que fecunda. Elos de um percurso
Que os ventos traçam.


Lindo demais, belíssima criação, Manuel!

Sobre o vídeo (acima), instrumental é maravilhoso, tenho escutado essa música com Andrea Bocelli e outros tantos, porém prefiro com Luis Miguel.
Um bom domingo, meu amigo!
Beijo

Teresa Almeida disse...

Cada poema, com a tua assinatura, tem a beleza e a sabedoria de "um voo inesperado" a sobrevoar o delírio do restolho
e das águas
e da "pele dos dias".

Que elevação, meu amigo, Manuel Veiga.

Beijos.

Suzete Brainer disse...

Manuel, meu amigo

Este teu poema é uma profundidade rara, construções
imagéticas de beleza e inscrições filosóficas
conceituais, a espelhar uma sabedoria da leitura da
vida no seus mistérios e assimilações enigmáticas,
numa quase improbabilidade de desnudar o
percurso Rio-Vida!...

Cabe ao poeta "na pele dos dias um arrepio da memória"
"Ou palavra nova, a despontar no léxico e na gramática
do mundo..."

Bravo!!!

Um domingo feliz e na paz, poeta.
Beijo.

Ana Tapadas disse...

Zombam sempre, os deuses...meu amigo.

Meu querido poeta, um abraço.

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