Nada é começo na
contabilidade das horas
Nem águas moles são
destino de barcos
Nem a alienação dos
passos
Devoção dos dias.
E, no entanto, administramos
silêncios.
Cabisbaixos. E os dedos
são compasso
De um círculo que se
ferra
No pescoço dos náufragos
E asfixia o grito.
E devora por dentro em
fervor negro
Como bolor em pão ázimo
De porta em porta
Negado...
Somos leilão de
condenados.
E nem sequer o sabemos.
Que nem, ao menos, o
preço nos distingue
Na volúpia do deve e do
haver.
Libertos, talvez, pela
palavra clandestina.
Ou na bruxuleante luz da
candeia
A iluminar a gruta. E a
inverter
A ilusão da Claridade.
Ou apenas na granítica esperança
Fogo e água profundos a
soletrarem a sede
E a (des)humana espera.
Manuel Veiga
5 comentários:
Poema magnifico ...
Bjos
Votos de uma óptima Sexta - Feira
Um poema que se move nos meandros da intervenção social. E a palavra é a ferramenta adequada. Manuel Veiga gosta de a esgrimir. E, na verdade, tem -se afirmado poeta versátil, poeta de eleição.
Beijo, meu amigo.
Lamento e grito inscritos no teu fantástico poema com o azedume que nos cerca e revolta cada hora.
Beijinho, querido amigo, Manuel
E, no entanto, administramos silêncios.
Cabisbaixos. E os dedos são compasso
De um círculo que se ferra
No pescoço dos náufragos
E asfixia o grito.
Show de poema, meu amigo Manuel, claro que é um pouco dolorido, um lamento silencioso, cabisbaixo, mas é essa verdade que sai lá do fundo d'alma é que nos faz sentir um poema cheio de verdades e sentimentos. Tantas coisas na vida são desumanas, aliás, o nosso final, o último suspiro é uma longa e desumana espera, não? Não tem como não pensar nisso.
Lindo!
Beijo, um ótimo domingo, amigo!
Car amigo Manuel,
desde o título, é preciso não deixar escapar uma só palavra no poema, no encontro consigo mesmo e com outros. E haja rigor e vigor, na escolha semântica, para traduzir esta procura ou este desencontro e notarmos a importância à palavra no processo de conhecimento. O sujeito sabe o que diz e porque o diz. É marca do poeta Manuel Veiga!
Um forte abraço, poeta!
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