quinta-feira, abril 11, 2019

DIÁLOGOS À MARGEM - 1


O  Poeta-Aprendiz, o Poeta-Mestre e Figuras de Estilo

O aprendiz de poeta, na oficina do Mestre, que, penosamente, amassa um poema: - “E se lhe meter uma anáfora?...”

E o Mestre, com ares de entendido, mirando a obra, monossilábico: - “Nah!

Insistência do aprendiz, perante a hesitação do Mestre: “E um assíndeto?..."

O Mestre, em silêncio pesado, coça cabeça!...

E o poeta-aprendiz dubitativo, insiste: - “Talvez uma catacrese?!...”

Geme suor resiliente a testa do Mestre: - “Há-de sair… há-de sair…um poema para deslumbrar o Mundo”! ... E espreme-se, esforçado…

E o novel poeta, cada vez mais duvidoso: - “E umas metonímias? E que tal uma elipse? ...”

E o Mestre, lívido e desanimado: - “Ora esta! Nunca tal me tinha acontecido…”

E o jovem, de sorriso rasgado, salvador: “Porque não umas metáforas? Resultam sempre...”

E o Mestre, resignado: “Pois, sim. E como? Tinha por aí duas ou três, mas, com a Primavera, regressou uma andorinha e ela forrou o ninho com minhas gastas metáforas!...”

O poeta-aprendiz, saindo porta fora, a morder uma hipérbole:

- “Este Mestre está … gasto! Melhor lhe fora ir salvar o Mundo para o “corno de África”…


Manuel Veiga
12.04.19





10 comentários:

Pedro Luso de Carvalho disse...

Caro Manuel esta, como você sabe, melhor que eu, esta é uma postagem para todos que gostam de Poesia. Gostei.
Uma boa continuação da emana, amigo Manuel.
Um abraço.

Teresa Durães disse...

E larguei um sorriso grande perante este texto! (e também tive de ir ver o que são essas figuras de estilo. Faz cá falta a minha mãe, professora de português!)

Tais Luso de Carvalho disse...


rsrsrsrsrsr, poxa, você complicou o que deu, Manuel, isso parece uma Pesquisa Operacional da Nasa podendo ser uma corrente de teorias que enfatizam o processo literário e poético de uma abordagem não racional, nem determinante ou lógica! Me entendeu, amigo? Não? Nem eu!
Mas se for pra complicar o processo criativo, eu ajudo!!! Mas no fundo tem Mas há lá suas razões essa ansiedade desenvolvida que, na verdade eu adorei!
Mas deu trabalho!!! Sou aprendiz, rss
Beijo!

Tais Luso de Carvalho disse...

corrigindo:

Mas no fundo tem lá suas razões essa ansiedade desenvolvida, que na verdade eu adorei!
bj
(Mas há) foi erro.

Larissa Santos disse...

Gostei bastante :))

Hoje:-"A carta" - a esperança é a minha única salvação. {Poetizando e Encantado}

Bjos
Votos de uma óptima Sexta - Feira.

Jaime Portela disse...

Um diálogo bem divertido, com figuras de estilo que nunca tinha ouvido falar (ou já me esqueci delas...).
Caro Veiga, um bom fim de semana.
Abraço.

Teresa Almeida disse...

Dubitativa também fiquei. E muito divertida!
Aquela de forrar o ninho a metáforas é mesmo de mestre com asas de andorinha.
E a primavera prossegue com chilreios diversificados.

Parabéns, Manuel.
Beijinho.

José Carlos Sant Anna disse...

Caro amigo Manuel,
Pois é, quando os versos se escondem, eu sei, dá um nó na tripa da inspiração. Mas no seu caso não falta imaginação criadora porque você sempre teve um verso agora e na hora de qualquer papel em branco... Um belo arranjo com as figuras de linguagem e de estilo... Gostei desta lição de poesia! rss
Um forte abraço,

Agostinho disse...

A hiperbólica pretensão do apre diz há-de ter ficado com escoriações no cocuruto ao cruzar a porta. Afinal, tanto estilo... e a substância, onde está ela?
Gostei de ler. Boas festas!

Ana Freire disse...

Um poema que adorei... que me fez sorrir... e perceber... a minha analfabetice... em matéria de poesia!... :-)
Mas onde é que eu estava nas minhas aulas de Português... que não se me ocorre mesmo nada... sobre o que seja uma catacrese... e um assíndeto?... :-(
Um fabuloso momento poético... que me vai fazer sair daqui... e ir já ver se descubro, de seguida, sobre... o que seja uma anáfora... em grande estilo!... :-))
Beijinho
Ana

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