domingo, outubro 27, 2019

DEVIR ESQUIVO...


Na clausura das coisas antes de acontecerem
Agita-se secreta a vibração do sopro.

Não tempo ainda - nem o milagre.
Nem murmúrio sequer.
Nem indicio...

Apenas invertebrada escuta...

Tensão do arco. Ainda não seta.
E o júbilo que se solta inesperado
E se liberta em bailado.

Talvez sopro iniciático
Ou devir esquivo
Irrompendo
Ante o poeta
Desarmado  

Manuel Veiga






10 comentários:

Teresa Almeida disse...

Manuel Veiga, poderia deter-me em considerações,mas prefiro sorver a arte, em cada verso, e interiorizá-la.
Bravo, poeta!

Um beijo.

Graça Pires disse...

O poeta desarmado. Com um brilho no olhar como se fossem lágrima. Como de esperasse o milagre do sopro iniciático e do júbilo transformado em bailado de palavras…
Lindíssimo, o poema, meu Amigo!
Uma boa semana.
Um beijo.

Tais Luso de Carvalho disse...

A cada postagem um novo poema, um novo e lindo lançamento poético, para ler e reler e usufruir das belas palavras, da musicalidade, da ideia e da construção harmoniosa.
Uma ótima semana, meu amigo!
beijo

Larissa Santos disse...

Depois de uma breve ausência (doente), estou de volta. O Gil com muito trabalho, incumbiu-me de vos visitar... Hoje numa passagem rápida. Espero que entendam...

Hoje, do Gil António :-O amor e a sua ausência

Bjos
Votos de uma óptima Noite.

José Carlos Sant Anna disse...

Diante do “devir”, as mudanças pelas quais passam as coisas e, por extensão, a teoria/criação poética. A ação de se “tornar”. Daí porque acompanhado do adjetivo esquivo, o mesmo que arredio, desconfiado, que não se prende com facilidade. Mas é na “clausura” que se “agita a vibração do sopro”, a inquietação interior, “a invertebrada escuta”. Dir-se-ia inquietação interior, embora multicelular, ainda sem vértebra, sem forma, mas pronta para “se tornar”, pronta para o devir. E aqui, ao dizer “tensão do arco. Ainda não seta. / E o júbilo que se solta inesperado/ E se liberta em bailado”, o que era “vibração do sopro”, distendido no limite, “se solta”, “se liberta em bailado”. É ritmo, música, forma, que se manifestam “ao poeta desarmado”. Mas ele sabe o que faz, ou melhor, ele sabe o que fez, pois está diante de nós não mais o devir esquivo, e sim o objeto estético que acabamos de fruir.
Já dizia uma grande mestra a teoria está na criação.
Forte abraço, meu caro poeta!

Elvira Carvalho disse...

Não tenho jeito para comentar poesia que eu penso que ela se sente, não se descreve.

Abraço

Olinda Melo disse...


Mais um belo Poema que nos coloca diversas perplexidades.
Logo de entrada, este simbolismo de que se rodeia e que nos
obriga, quase, a uma viagem ao "eu" do Poeta e tentar vislumbrar
os seus mistérios, os seus sentires. Mas, debalde.
Teremos de nos contentar em maravilhar-nos com esta obra de arte, onde
nos pretende dizer muito mais do que mostra.
Vemos um Poeta que se arma de Palavras, que se exprime num tom tal que
acabamos por lhe desejar aquilo a que mais aspira e que esse bailado se
desate em declarado júbilo e alcance alturas celestiais.

Meu caro Poeta, grata por mais este especial momento de gostosa leitura.

Abraço

Olinda

Ana Tapadas disse...

A arte de criar, juntando palavras que antes nunca estiveram unidas.
Belo poema!

Beijo

Pedro Luso de Carvalho disse...

Gostei muito deste poema meu caro Manuel. Um canto para se ouvir e refletir. Parabéns!
Meu abraço ao poeta amigo.
Pedro

Agostinho disse...

No estado da supressão aparente do movimento da vida o Poeta espera um som que emirja do ventre maduro.
O Poema virá seguramente. Seguro.
Gostei disto que veio e leio por obra e graça de ti e mim. Quem escreve espera (também) que o leitor leia. E viceversa.
Abraço.

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