sábado, outubro 19, 2019

NA MINHA CIRCUNSTÂNCIA ...


No pórtico da Lonjura e da Distância
Onde a Palavra germina – febre e fio de água!
E o grão de areia explode – quase-nada!

E as esferas se movem. Surdas.
Frias e eternas. E absurdas em sua eternidade...

Nesse indefinido lugar onde todos os possíveis
Se resgatam. E outros tantos colapsam.
Sem memória que os diga.
Nem sobressalto
Que lhes valha...

Nessa tensão desesperada entre a euforia do Ser
E a neutra alvura do Nada...

Nessa oculta razão das coisas
Em que – dizem-me – os deuses se recriam
Em interminável jogo de dados...

Nessa tatuagem dos dias
Em que apenas os nomes são presença
E a árvore da vida... 

Aí nesse fogo sem lume
Esculpo minha circunstância – de palavras e cinza!
E me (des)digo – água clara.


Manuel Veiga


6 comentários:

Larissa Santos disse...

Sempre fantástico :))
Hoje :- Melancolia da lágrima

Bjos
Votos de um óptimo Domingo

Tais Luso de Carvalho disse...

"Nesse indefinido lugar onde todos os possíveis
Se resgatam. E outros tantos colapsam.
Sem memória que os diga.
Nem sobressalto
Que lhes valha..."

Tão forte e intenso, meu amigo! Cala fundo na alma.
Tão lindo que vamos parando em cada verso, como se bebêssemos um bom vinho, e refletindo cada frase pensada.
Aplausos!
Beijo, uma ótima semana.

Graça Pires disse...

Entre a tua circunstância de palavras e cinza, a nitidez do poema, como água que corre dentro das veias para que voltes à caligrafia da sede… Muito belo!
Uma boa semana, meu Amigo.
Um beijo.

Teresa Almeida disse...

"Nessa tensão desesperada entre a euforia do Ser
E a neutra alvura do Nada..."

Caro amigo Manuel, és exímio construtor de palavras ... és mistério e clareza.

É um prazer ver-te jogar os dados.

Um beijo.

Olinda Melo disse...


O Homem, ou seja o ser humano, dentro da sua própria circunstância, habita um lugar onde, na verdade, todos os possíveis se resgatam e outros tantos se colapsam. Por momentos se ganha, por momentos se perde. Nessa árvore da vida, aprendemos a valorizar as palavras e os sorrisos, o sentido e a importância de um quase-nada que ao fim e ao cabo poderá significar uma eternidade, a chama do Universo.

Caro Manuel Veiga, este seu Poema faz-nos dizer coisas assim, tal é a sua transcendência. Uma bela reflexão que nos toca.

Abraço

Olinda

José Carlos Sant Anna disse...

Meu caro Manuel,
Aqui, paralisado, com a força das palavras neste poema, e quanto é dito em tão poucas palavras, senão o que diríamos de versos tão poderosos: "Nesse indefinido lugar todos os possíveis se resgatam. E outros tantos se colapsam." Organizá-las deste modo só para os iniciados, para os que têm a chave e compreendam "os corpos vivos" que representam... O que não falta é densidade ao esculpir "as circunstâncias" nesta impregnação lírica.
Um abraço, meu caro poeta!

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