segunda-feira, outubro 07, 2019

PALAVRAS DITAS...


Breve o desfiar dos dias
Em que me planto – palavras ditas!

São beijos? São afagos? Ou venenos?
São palavras. Passageiras glórias
A baterem como asas, que voando
Se despenham...

Quem por mim as toma? Quem delas cuida?
Nada quem as queira. Apenas o sussurrar
Quente da cigarra. E o vento
E o logro em que inúteis
Se desenham...

Abrem-se os braços à colheita e voam...
E este mar de brasas em que ardo. E nesta fome
De lonjuras em que me fito
São as palavras tudo-nada.
Barco sem remos
De meu grito...

E como tal as tenho…
Apenas!


Manuel Veiga

7 comentários:

Emília Pinto disse...

Gosto de palavras, as ditas, as escritas, as pensadas, mas que, por bem, muitas vezes não foram ditas, nem escritas
Tens razão....elas são tudo e são nada, mas prefiro-as quando são tudo; não devem ser poupadas em determinadas circunstâncias, mas sempre com a devida cautela, pois depois de ditas " são como flechas ", não voltam para trás e ferem, muitas vezes provocando feridas profundas; " passageiras glórias " são com certeza as ditas...dizemos o que pensamos, dizemos o que tem de ser dito, como obrigação de verdadeiros cidadãos, mas e depois ? Passou...esqueceram, de nada valeu a nossa ousadia; talvez as escritas sejam mais duradouras, mas quem delas cuidará? Não sei.... as minhas, amigo, valem pouco, tanto as ditas, quanto as escritas, mas são minhas, são as que tenho e vou continuar a gostar delas, tentando usá-las sempre que necessário e sempre com cautela.Aqui deixei bastantes, mas tu saberás cuidar delas. Beijinho, Manuel e boa noite
Emilia

_ Gil António _ disse...

Palavras ditas
que quando escritas
em folha branca, calma
São gritos dilacerantes
hoje, ontem, e até antes
São sempre gritos da alma
......................
Deixando um abraço

José Carlos Sant Anna disse...

No "breve desfiar dos dias" a música certa das palavras, semeadas e colhidas ao mesmo tempo como só os poetas sabem fazê-lo, ainda "que batam asas", as palavras ditas já cumpriram o seu papel, vencendo as ilusões persistentes que nos acompanham.
E tê-las sempre como você as tem é um consolo quando hoje "nada se pode".
Um forte abraço, meu caro amigo,

Tais Luso de Carvalho disse...

Bem, eu prefiro as palavras escritas, é uma particularidade minha. Não saem na emoção repentina, elas brotam com coração, mas também possuem razão, raciocínio, dá 'tempo de pensar'! Está cravada numa folha, numa tela.
A pior palavra é a dita ao 'telefone'; não vemos os olhos e muitas vezes não percebemos seu real sentido, sua verdade, sua intenção, e pode ferir muito. É quase anônima.
As ditas pessoalmente ou por imagem, dá para percebermos seu veneno, como também seu afeto, seu amor, sua intenção. São maravilhosas quando nos elevam, quando são cercadas de boa intenção, de carinho, mas não podemos prever o que vai sair de uma pessoa. Pode essa ser pura e linda ou causar um 'barraco' (briga feia).
As palavras não escritas voam muito rápidas, não sabemos seu destino, viajam, como diz esse seu belo poema.
Meu amigo Manuel, gostei muito!
Beijo, uma boa semana.

Jaime Portela disse...

E são estas palavras, as do poema, que o vento não leva...
Excelente, gostei imenso.
Caro Veiga, continuação de boa semana.
Abraço.

Teresa Almeida disse...

"Palavras ditas em que me planto"
Atentei nesta frase que considero assertiva. É que o poeta, por muito que divague, ergue-se na palavra e traça o seu perfil. E o teu dizer é fluente e a tua pauta musical deixa adivinhar um bom maestro.

Beijinhos, meu amigo Manuel.

Olinda Melo disse...


Palavras ditas.

Ouve-se dizer que "Palavras leva-as o vento", privilegiando-se, talvez, os actos. Penso, no entanto, que mesmo somente ditas verbalmente deixam sempre um rasto de alegria ou de amargura. Quando escritas esses sentimentos são ainda mais douradouros, para o bem e para o mal.

O seu Poema, Manuel Veiga, coloca-nos de novo perante a importância das Palavras, neste caso, se são como beijos, como afagos ou, pelo contrário, venenos. Tempo para nos interrogarmos se não estará sempre nas nossas mãos escolhê-las com carinho, levando a mensagem que, por vezes, procuramos esconder no nosso íntimo. Reconheço que, frágeis humanos que somos, nem sempre conseguimos atingir esse desejo.

No entanto, acredito que praticando e praticando lá conseguiremos chegar.

Abraço, meu amigo.

Olinda

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