Esbanjamento(s) I
No pórtico das cidades
futuras
Onde todas as passagens
acontecem
E todos os ritos. E
todos os registos
Uma inscrição
E dois retratos
Apenas:
“Esbanjaram amor como proscritos…
Por isso são Eternos! …"
Manuel Veiga
Esbanjamento(s) II
Esbanjamento(s) II
Que se esbanjem todas as
letras
E todas as sílabas. E
todas as métricas.
E que colapsem todas as
palavras.
E todas as caligrafias…
Inventaremos um
abecedário de gestos
E eloquentes silêncios.
Para dizer
Esbanjamento de amor
Em fim de tarde!...
Manuel Veiga
Esbanjamento(s) III
Esbanjamento(s) III
Na orla dos lábios onde
uma flor desponta
E de tão rubra se
incendeia…E no declive dos seios, onde habitam
Pássaros de fogo e o
ritmo de um bailado
Em meus dedos…
E no percurso do frémito a inundar
E no percurso do frémito a inundar
Os corpos como rio em
alvoroço
E na enseada aberta de
espuma
A ferver em ondas de
ternura
E peregrinas bocas
Sorvo o
suco de teu mosto a escorrer
Em
esbanjamento de línguas.
Como
salivas vivas.
Manuel
Veiga
10 comentários:
Meu caro Poeta
Vejo aqui sumamente valorizado o repto ou mote lançado pelo "Xaile de Seda", num bailado em três andamentos e em crescendo: Esbanjar em Amor. E não posso deixar de registar com agrado que as palavras Amor e Ternura aparecem de forma tão natural como se fossem presença assídua e clara nos seus Poemas, embora reconheça que estão sempre aí, mas assumindo um pendor elaborado e simbolista.
E gosto. Gosto deste seu outro jeito, Manuel Veiga, o que vem provar que trabalha as Palavras com o à vontade de um cinzelador, pondo-lhes a nu os segredos e o alcance. E as letras, as sílabas, o ritmo estão bem patentes nestes andamentos, fazendo jus a um abecedário rico e experimentado.
Abraço
Olinda
Estes esbanjamentos revelam-me como foste construindo um horizonte de palavras à volta dos teus poemas a através deles te apoderaste da linguagem até inventares "um abecedário de gestos E eloquentes silêncios. Para dizer
Esbanjamento de amor" Maravilhoso, meu Amigo Poeta…
Uma boa semana.
Um beijo.
Na senda de Drumond de Andrade segue Manuel Veiga. E se de esbanjamentos se trata, que sejam de amor - o mais fremente fermento da humanidade. Uma peça em três andamentos, habilmente montada por um exímio arquiteto da palavra, lançando mão de um abecedário de gestos E eloquentes silêncios." O mote de Olinda Melo era extraordinariamente apelativo.
De facto, este é um tema, em campo aberto, que esbanja recursos.
Da minha parte, os meus aplausos.
Abraço os dois com estima e apreço.
Pois que são sempre vivas as salivas - especialmente estas das bocas capazes de dizerem o singular, o fora do senso comum, o que eleva e faz expandir a alma. Interessante escolha musical. Um abraço, Manuel.
Eloquente... porque fala-se da amor nas palavras, nos gestos, no horizonte...
Vive-se...
Lindo...
Beijos e abraços
Marta
Digo: Drummond de Andrade.
Querido amigo/poeta que poema!!!
Se uma das poucas coisas que devemos esbanjar é o amor, o carinho, a ternura e tudo o mais que englobe o amor. Lembrei agora que há muita gente que diz que amor e mimos demais estragam os filhos; que as avós estragam os netos por dispensarem a eles amor demais! Desde quando que o excesso de sentimentos nobres estragam alguém? A falta dele é a doença do mundo.
Belíssimo poema, profundo, verdadeiro.
Aplausos! Uma semana feliz.
Pois aqui está o poeta libertando as palavras, em três momentos distintos e sequenciais ao reconhecer à palavra um poder que se acha presente em cada escolha feita. Nomeadamente, o poeta consagra ao(s) "esbanjamento(s)" (do amor) um poder de comunicação raro, pronto para ser usado... na transfiguração da palavra. É quase certo que depois de "sorver o suco... em esbanjamentos de línguas" , vislumbrou a paz dos vales!
E viva a chamar ardente da sua poesia!
Um abraço, caro poeta!
Em dia de celebração da Sophia de Mello Breyner Andresen deixo uma citação sua:
“Recordo-me de descobrir que num poema era preciso que cada palavra fosse necessária, as palavras não podiam ser decorativas, não podiam servir só para ganhar tempo até ao fim do decassílabo, as palavras tinham que estar ali porque eram absolutamente indispensáveis. Isso foi uma descoberta.”
Na eloquência do silêncio
o esbajamenro do pecado-virtude
O Poeta oficia por gestos
de palavras até ao zénite
o incêndio meridional
Em três actos
Abraço.
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