Andar
por entre estes montes onde o verde
Desliza
pelos dedos e neles se perde
Deixar
na lonjura que os olhos debruçados
Num
chão de estevas de trigo de valados
Poisar
o farnel no tronco da azinheira
Esperar
pelas tardes e pela companheira
Retrato
desses dias: o corpo a envolver-se
Colar-se
à tua seiva a dobrar-se a reter-se
O
vento a dar à costa: vem lá dos frios do norte
A
nostalgia a passar pelos montes sua morte
Sem
encontrar sepultura entre as urzes do chão
Há
quem se debruce no silêncio até à exaustão
No
lastro do sangue que acende a haste gasta
Um
pássaro pousado no meu ombro – isso me basta
Domingos
Lobo
In
O Rosto Em Ruínas – pág. 70
Coleção
Água e Sede
Edição
Modocromia
12 comentários:
Poema encantador. Deliciei-me a ler. Que soneto fascinante, poeticamente falando.
.
Tenha uma semana feliz
Cumprimentos poéticos
Um excelente soneto de um autor que desconhecia. A minha gratidão pela partilha.
Abraço, saúde e boa semana
Um grande escritor.
Um poeta imenso!
Maravilhoso poema de Domingos Lobo, da freguesia de Santa Comba Dão/Portugal e que vou pesquisar mais sobre esse poeta.
Beijo, uma boa semana e, com saúde tranquila, meu amigo.
"Há quem se debruce no silêncio até à exaustão
No lastro do sangue que acende a haste gasta
Um pássaro pousado no meu ombro – isso me basta".
Passei os olhos e entrei. E cada verso me deixa extasiada, mesmo que "a nostalgia ... não encontre sepultura entre as urzes do chão.
Parabéns ao autor e a quem o trouxe.
Beijos.
Grandioso poema!! Amei 😘
~~
A Linha da Vida
Beijo e uma excelente Semana.
Estranhamente (ou não) "um pássaro pousado no meu ombro" parece ser o que mais dificil há neste poema. Talvez a única coisa que não dependa da "minha" percepção ou vontade.
Anónimo,
anónimo escondido com orelhas de fora, não é verdade?
mais te valia teres assinado...
anoto, no entanto, a tua "catedrática" opinião
que aliás nada acrescenta à dimensão literária de Domingos Lobo
e muito menos a este blog
Pois, "não me basta" um poema, quando sabemos que Domingos Lobo já publicou mais de nove livros, já arrebatou prêmios etc. O que nos trouxe já permite perceber o quanto a palavra lhe é íntima.
Um abraço, caro amigo!
Caro Manuel, o Poeta Domingos Lobo, que estou conhecendo agora, neste excelente espaço dedicado à Prosa e à Poesia, escreveu um poema profundo (ROSTO EM RUÍNAS), que certamente merecerá dos leitores uma releitura. Uma ótima partilha, Poeta.
Uma boa semana amigo Manuel.
Grande abraço.
Poema envolvente, este, de Domingos Lobo.
Um percurso bem delineado em que o Poeta recusa a exaustão do silêncio, optando por um toque de liberdade.
E ainda esta estrofe, em que me quedo, que nos liga ao essencial da vida, à seiva que encanta e alimenta:
"Poisar o farnel no tronco da azinheira
Esperar pelas tardes e pela companheira
Retrato desses dias: o corpo a envolver-se
Colar-se à tua seiva a dobrar-se a reter-se"
Muito obrigada, caro Manuel Veiga, por nos ter trazido este belo Poema.
Abraço
Olinda
Li e reli este excelente soneto.
Obrigado pela partilha, pois acho que nunca tinha lido nada do Domingos Lobo.
Continuação de boa semana, caro Veiga.
Abraço.
Enviar um comentário