terça-feira, setembro 08, 2020

GRAMÁTICA DE MEUS DIAS


Na nudez das palavras

E limite da língua onde fremem

Desígnios desencontrados. E ecos.

E todas as possibilidades se acrescentam

Invisíveis fios que as moldam …

 

Na cisão vertical do tempo

A fender destinos e a separar águas

Mergulho matricial dos corpos a dissolver

Esquírolas e viscosidades …

 

Na luminosa claridade de gestos

Partilhados. E de rebeldias sem mácula.

E no apodrecimento da memória

Ainda que persistência tolerada

.

No alvor dos ritmos.

E no fragor das torrentes subterrâneas

Onde se anunciam – não oceanos –  

Mas viço das flores. E a mansidão

Das searas.

 

Nesta florescência dos sentidos

Em que me digo. E nego.

Te proclamo tema.

E poema.

 

E gramática

E de meus dias.

 

Manuel Veiga





5 comentários:

Tais Luso de Carvalho disse...

São as vidas complicadas e desencontradas, que complicam o curso natural e mais tranquilo dos nossos caminhos. A vida sempre será algo que jamais entenderemos, por mais que procuremos as respostas.
Essa é a minha interpretação de tão lindo poema, a gramática é algo complicado, para domá-la, vão anos! Belíssimo poema.

Uma boa semana, meu amigo,
beijo!


"Na luminosa claridade de gestos
Partilhados. E de rebeldias sem mácula.
E no apodrecimento da memória
Ainda que persistência tolerada"


Jaime Portela disse...

Excelente poema.
De uma criatividade notável.
Continuação de boa semana, caro Veiga.
Abraço.

Juvenal Nunes disse...

Mesmo que a gramática da vida tenha regras, temos que ser nós a traçar o nosso próprio caminho.
Abraço poético.
Juvenal Nunes

Teresa Almeida disse...

"Nesta florescência dos sentidos

Em que me digo. E nego.

Te proclamo tema.

E poema."

E tua palavra, sufragada na turbulência, surge nua, viçosa, rebelde e desafiadora.

Beijos, meu amigo Manuel.

José Carlos Sant Anna disse...

Caro Manuel, muito bom reconhecer na “gramática dos dias” um caminho. Ou melhor, a construção de um caminho. A revelação de um caminho ao se reconhecer na gramática e, progressivamente ir-se revelando pela relação que consigo se mesmo estabelece, tendo a palavra, a escrita, como a mediadora das suas ações. Bravo poeta!
Um forte abraço, meu caro e estimado amigo!

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