sábado, julho 17, 2021

A NUDEZ DAS ESTATÚAS



O levíssimo tule que verte a nudez das estátuas

Detém também uma policromia outra, que se nega

E a geografia das ondas e das águas fulvas

Sem que – reparem – por vezes, o saibamos dizer.

………………………………………………..

Tudo é nada. Apenas a avidez das coisas

Lhes traça o perfil em que se despenham 

E lhes esboça existência – precária forma!

 

Ineptos nossos olhos deslizando

Pela superfície acumulando sinais que tecem

Girandolas fogosas, logo desbotadas ou

Perfidamente sedutoras na voragem

Do instante – néscios que somos

A exibir aparências e a colher o Vazio  

 

Como se veracidade das coisas fosse

A nossa fome delas

 

 

Manuel  Veiga

 

 

6 comentários:

SILO LÍRICO - Poemas, Contos, Crônicas e outros textos literários. disse...

Lindo!... Falar de nudez
De estátua em tênue tule
Sem dobra que acumule
Sombras opacas talvez.
Deve ter a lucidez
Ou uma luminescência
Diáfana de aparência
Quase total à visão
Do belo à imaginação
Do nu por ser a essência.

Belo poema! Parabéns pela postagem! Abraço fraterno. Laerte.

Ana Tapadas disse...

Meu querido Poeta (clássico) é tão bom ler-te!

Beijo

Graça Pires disse...

"Como se veracidade das coisas fosse
A nossa fome delas"
E eu sinto tantas vezes que é assim, meu Amigo...
Cuida-te bem.
Uma boa semana.
Um beijo.

Elvira Carvalho disse...

Gostei de ler. Muito.
Espero que esteja bem.
Abraço, saúde e bom fim de semana

Olinda Melo disse...


"Reparem" - o Poeta convoca-nos na apreciação
da sua visão das coisas.

Por vezes, na nossa ânsia de agarrar tudo
depara-se-nos o Vazio com aparência de realidade
que mais não será que a nossa própria vontade
de nos apropriarmos dela.

Na nudez das estátuas, que o tule mal cobre, encontramos
a sensação álgida desses "nadas" que se escapam por
entre os dedos.

Belo Poema, amigo Manuel Veiga. Gostei muito.
Abraço
Olinda

Teresa Almeida disse...

Este poema é de uma intensidade tal que me deixa apenas a degustar como quando olho uma obra de arte e fico sem palavras.

Grande abraço, caro amigo Manuel Veiga.

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