quarta-feira, agosto 18, 2021

ABOLIÇÃO DAS PALAVRAS

 

Gostava de celebrar-te

Num poema pleno de “interditos”

Em que todas as palavras seriam abolidas

E, em lugar delas, apenas o debruar dos sentidos

Numa dança de improvisados gestos

Como quem ama e cuida e se diverte

A misturar cores do dia, num bouquet

De emoções pagãs, tão intensas como

Outras não houvera e, aquelas ali inventadas,

Fossem, em desfrute de favo, plenitude de mel


E baixariam todos os decretos e todas as leis

E as instituições seriam um amontoado de inutilidades

Donde apenas sobressaiam a pegada

Dos colossos…


E o amor? Ah, o amor seria tudo e coisa nenhuma

Fluiria como brisa em noite cálida. E entraria

Sem licença em todas as casas,

Como uma chávena de chá de mão em mão

Ou como o pão repartido dos famintos-


E, por vezes, o amor poderia ser uma gota de fogo

A desprender-se e a elevar-se em frémito

Como se fora teu corpo no enlace 

De meus braços


Manuel Veiga

9 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Poema deslumbrante que me deliciou ler.
.
Cordiais cumprimentos
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

Anónimo disse...

Brilhante!

Maria Lucia (Centelha) disse...

Poesia que me tocou o coração e a imaginação, poeta. Tão bom de ler palavras tão belas, e livres. Me vou com o olhar poetizado.
Beijos poéticos.

Pedro Luso de Carvalho disse...

De qualquer forma, meu amigo Manuel, é um metapoema, pois em que pese a possível exclusão da palavra, que em seu lugar ficaria o referido boquet de "emoções pagãs", é um poema, melhor dito, um belíssimo poema que dele se fala; aí está pois, a metalinguagem.
Meus parabéns, caríssimo amigo, que tão bem representa a poética por excelência do nosso querido Portugal.
Um bom domingo com a família.
Grande abraço.

Tais Luso de Carvalho disse...

Bem, meu amigo, belíssimo poema de Manuel Veiga, seu nome já é 'grife na poesia de Portugal'.
Gostei muito, Manuel, aplausos!
Uma feliz semana pra você e família, cuidando-se sempre.
Um beijo.

"E o amor? Ah, o amor seria tudo e coisa nenhuma
Fluiria como brisa em noite cálida. E entraria
Sem licença em todas as casas,
Como uma chávena de chá de mão em mão
Ou como o pão repartido dos famintos-"

Olinda Melo disse...


Poema que festeja a Vida e os seus momentos mágicos.

Se a Palavra é um importante veículo de comunicação,
também é certo que havendo harmonia e cumplicidade
bastará apenas um Olhar (ou um gesto), por vezes...

E o Poeta di-lo no seu jeito ímpar de dizer, em que
as próprias palavras atravessam fronteiras inimagináveis.

Grande abraço, Manuel Veiga.
Olinda

Graça Pires disse...

Dispensar as palavras para no silêncio improvisar cada gesto.
Forte, este poema.
Desejo que estejam bem, tu e a tua família.
Continuem a cuidar-se.
Uma boa semana.
Um beijo.

Teresa Almeida disse...

Caro amigo Manuel,

O poema é um bouquet de emoções como se outras não houvera. A forma elegante, musical e arrebatadora perpassa a tua escrita. E eu voltarei sempre.

Beijos e saúde.

Teresa.

Emília Pinto disse...

Como seria bom, Manuel, que o amor se espalhasse por todos os lares, por todas as terras, por todos os continentes e fossem abolidas determinadas palavras que tantas vezes impedem que ele corra mundo, solto e livre, dando a cada um a liberdade de o expressar da forma que quisesse. Está na hora de passarmos das palavras aos actos, está na hora de deixarmos de interferir na cultura de outros povos que são diferentes e que têm o seu modo de expressar os sentimentos. Querem fazer que acreditemos que estão a pensar nas belas palavras, solidariedade, amor, respeito, mas outras , nada bonitas, os movem. As palavras levam-nas o vento, não é verdade, Amigo? Aqui deixei muitas palavras escritas, mas, quero que saibas que elas pouco dizem da emoção que senti ao ler este poema. A emoção, assim como outros sentimentos, dispensa as palavras. Há muito não vinha aqui, mas tenho noção do tanto que perco com a minha ausência. Espero que me deschlpes, Amigo. Obrigada! Espero que aí em casa estejam todos bem. Um beijinho
Emilia

ESCULTOR O TEMPO

Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos, onde me revejo. E as mãos, arados. E os punhos. Em luta erguidos…  S ons de fábrica...