sexta-feira, janeiro 07, 2022

DEPURAÇÕES

 Antes do magma. Nesse eterno lugar

Tempo sem tempo. Mero enunciado das coisas
E todos os nomes.

 

Nessa órfica placenta

Onde se desenham todos os rostos

E a linha das mãos é arbítrio

E precoce carícia

 

E todas as coisas fluem
Em sua mútua simpatia

E singular gesto de se enunciarem

 

Nesse mundo orquestrado

Na usura de absolutos silêncios

E ignotos territórios

 

E no infinito-tempo

De todas as singularidades

Ergues-te do barro e te sublimas

E explodem, então, todas as cores

E se fecundam solares

Todos prenúncios

 

E te digo Sibila. E te nomeio depuradora

De essências, em mar de miasmas…

Como se foras, mais que delírio, poema.

E invenção minha.

 

Manuel Veiga

In Coreografia dos Sentidos

Edição MODOCROMI

3 comentários:

Jaime Portela disse...

Haja quem depure este mundo... cada vez mais imundo de silêncios e palavras falsas.
Excelente poema, os meus aplausos.
Bom fim de semana, caro amigo Veiga.
Um abraço.

São disse...

Para mim, um belissimo poema.

Lamento, mas só te posso dizer o que sinto ao ler o que escreves , pois não tenho conhecimentos técnicos para análise literária( tenho outros).

Beijo e que seja bom o final de semana , meu amigo.

Emília Pinto disse...

E todas as coisas fluem, nem sempre da melhor maneira, porque o mundo é imperfeito, sempre foi e assim continuará. Lá vamos, nós, seguindo o nosso caminho nesse tumulto das sociedades em querelas constantes, em incompreensões com as atitudes dos outros, sempre buscando o poder a qualquer preço. Urge uma depuração ompleta a todos os niveis, mas falta vontade aos poderosos e os pequenos, por mais que tentem , pouco podem fazer; essa tentativa é uma gota neste oceano de " imundicie " e a prova está no que acontece na " casa grande " do teu conto e em tantas outras " casas grandes " deste nosso mundo. Estava com saudades e esperava há muito a continuação do teu conto, Manuel. Não sei..., mas a ida para a igreja leva-me a supor que não será coisa boa. A ver vamos! Espero que esteja tudo bem contigo e com a familia e que este novo ano vos traga, especialmente, saúde. Um beijinho e obrigada!
Emilia

ESCULTOR O TEMPO

Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos, onde me revejo. E as mãos, arados. E os punhos. Em luta erguidos…  S ons de fábrica...