quarta-feira, julho 18, 2018

Assalto da Pide à SEARA NOVA - José Manuel Tengarrinha


JOSÉ MANUEL TENGARRINHA
12 Abril 1932 – 29 Junho 2018


"Durante o Estado Novo o aparelho repressivo policial raramente se fez sentir directa e violentamente sobre a Seara Nova. Os seus colaboradores eram notoriamente contra o regime, colaboravam activamente nas campanhas políticas anti-salazaristas, por vezes eram mesmo candidatos nas listas oposicionistas, frequentemente eram presos e sofriam duras perseguições pessoais, mas o grupo, como tal, não era sistematicamente atingido.

Tal se devia ao facto de, desde a sua origem, a Seara Nova, como agrupamento, ter sido constituída por personalidades de alto nível intelectual e incontestada estatura moral e cívica, que deram contributos assinaláveis para a solução dos graves problemas que o País atravessou desde a década de 1920.

A sua participação em governos da I República e as suas propostas sectoriais e globais sobre a realidade portuguesa eram reconhecidamente muito válidas, situando-se num plano superior ao dos duros confrontos partidários que tornavam dificilmente governável este país. É bem explícito o que, a esse respeito, declara no editorial do número 1, em 15 de Outubro de 1921:

"A SEARA NOVA representa o esforço de alguns intelectuais, alheados dos partidos políticos, mas não da vida política, para que se erga, acima do miserável circo onde se debatem os interesses inconfessáveis das clientelas e das oligarquias plutocráticas, uma atmosfera mais pura em que se faça ouvir o protesto das mais altivas consciências e em que se formulem e imponham, por uma propaganda larga e profunda, as reformas necessárias à vida nacional".

O grande grito de alarme dá-se no número 12, de 15 de Abril de 1922, com o editorial intitulado "Programa mínimo de salvação pública", um dos mais esclarecidos e enérgicos protestos que então se publicaram.

Com a instauração do Estado Novo começa uma nova fase. Agora, o aparelho repressivo incide especialmente sobre os conteúdos da revista. Era preciso evitar o lápis azul da censura. Um dos artifícios foi a publicação de uma secção, na última página, intitulada "Factos e documentos", onde eram inseridos excertos de textos publicados na imprensa ou em livros que contivessem alusões críticas, mais ou menos sub-reptícias, ao Estado ditatorial. Aí, os mais visados foram os discursos do então presidente da República almirante Américo Tomás e a obra de Camões, nomeadamente Os Lusíadas. Ao passo que não sofriam censura os textos de um tal Vladimir Ilitch (a que não era junto "Lenine") ou as considerações sobre a evolução do capitalismo de um não menos desconhecido Carlos Marques (Karl Marx, este sim conhecido dos censores).

Mas os artifícios, por mais engenhosos, não impediam que, sobretudo desde a instituição do S.N.I. (Fevereiro de 1944) a censura redobrasse a sua atenção sobre os textos da Seara Nova e, já na década de 1950, fizesse cortes tão extensos que obrigavam os redactores a improvisar rapidamente textos para garantir a saída da revista.( ...)

José Manuel Tengarrinha

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