sexta-feira, dezembro 26, 2014

SUAVES SORTILÉGIOS...


Falam-me estes dias de suaves sortilégios
Quando os olhos sorriam na ternura de um afago
E teu regaço, Mãe, era altar e refrigério…

Não havia profusão de cores. Nem artificio.
Tudo se resumia à singeleza de teus dedos
Ajeitando o musgo sobre a pedra.
E a imaginada gruta onde construías o milagre
Aninhando-se em mim: – Deus menino!...

Que o outro Menino era apenas pretexto.
Natal que tu não sabias, então, Mãe, mas eu sei.
Hoje!...

E em que incréu teimo!...

E a mãe celeste era a amorável devoção
Com que enfeitavas o caminho. E deitavas
Nas palhinhas o meu olhar deslumbrado
E o doce encantamento…

E a liturgia imaculada do presépio!...
E esta eterna dor da ausência. E tua presença
Iluminada que pressinto em cada passo!… 

Manuel Veiga  

5 comentários:

José Rodrigues Dias disse...

..."dor da ausência".
De ausências...

Gostei muito.
Abraço.

Rogério G.V. Pereira disse...

Há memórias assim...
com "suaves sortilégios"

Majo disse...

.
~ Um sortilégio suave, emocionante e belíssimo!

~ Mãe querida, presença iluminada no seu peito, ficaria
comovida e muito orgulhosa pela sua sensibilidade terna
e apurada e pelo seu maravilhoso talento.

~ Não levaria muito a sério a presente crua incredulidade.

~ ~ ~ Abraço amigo. ~ ~ ~

~

Graça Sampaio disse...

Muito bonito, heretico!! Mesmo muito bonito!

A tua Mãe, lá onde estará, deve estar embevecida... (eu estaria!)

Beijinhos e
continuação de Boas Festas.

Mar Arável disse...

Uma ternura de poema
para quem não crê
mas acredita

Abraço sempre

COMO SE FORA UM RITO

  COMO SE FORA RITO...   teus dedos açucenas em meu corpo aberto e os olhos vendados. Como se fora rito ou cerimonial secreto.   Sou...