Nego-me à estética do
Horrível
E à música de Wagner
como se a cavalgada
Da Morte fosse Coppola ou enfeite a
enquadrar o telejornal
Nauseabunda esteticização
do Desastre
A celebrar o Espectáculo
dos corpos e das casas
E as labaredas a lamber
os impassíveis olhos
Mal refeitos ainda da
voragem do Pânico.
Nego-me ao microfone em
riste
A invadir as bocas e
colher a baba das palavras
E escarafunchar o
pormenor da Lágrima
E a dobra da Agonia como
viver ou morrer fosse
Noção escorreita perante
e iminência da Morte.
Nego-me a doutas
opiniões e ao grande Debate
E ao arroto da Sabedoria
ao serviço da Ganância
A desenhar manobras e as
invisíveis rotas
Do Lucro e permanente
encenação do Mesmo.
Nego-me ao leilão das
alvas consciências
A pingar em fila da
Banca e do altos muros
Da Instituição. E nego-me
aos caninos cibernantropos
A salivarem tweets e
likes e rabinho electrónico
A dar a dar e a
babarem-se sem ao menos saberem
Que nada representam –
pálida imitação dos Donos.
Nego-me a esta impúdica exasperação
dos lugares.
E da Dor, que sendo
minha, é apenas Simulacro
Palavra que não (me)
redime, nem salva
E que, no entanto, teima
- acre lucidez de cinza.
Manuel Veiga
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