(…) e a
extensa fila de almas, fora do tempo e do espaço, a agitarem-se e a protestarem
o respectivo lugar na ordem de chegada, pois apenas entram no Céu aqueles que
nele acreditam e o Soldado Assobio, misto de Arcanjo S. Miguel e de bobo, saído
de qualquer página de Gil Vicente, sem mãos a medir, a registar e a pesar a
almas e gritar “ó da barca!” e a encaminhá-las, as almas, para a barca do Céu
ou para a barca do Inferno, conforme o respectivo peso, e agora neste tempo
fora do tempo, o glorioso Padre Manuel, tio e padrinho de Raquel, por sua
santidade nomeado Prior-mor do Reino dos Céus, a chegar à porta para serenar o
chinfrim do dito Manoel Caetano. avô paterno do Alferes de Cavalaria, que
alferes foi, oficial adjunto do Comandante de Companhia, por acaso de graduação
militar e seu padrinho de baptismo, algures numa aldeia ignorada no norte do
País, bem como o Padre Casimiro, que de padre tinha o direito de rezar missa,
mas ele a rezava quando muito bem entendia, que outros afazeres e prazeres o corpo
lhe pedia, unha com carne, Padre Casimiro e Manoel Caetano, que ambos se
negavam a entrar no Céu sem as pipas de vinho e os presuntos que com eles
traziam, pois Céu não concebiam sem boa pinga e uma boa lasca, mais a mais o
Assobio descobrira na nesga do registo de almas, serem ambos putanheiros e
brigões, de tal forma que o Arcanjo Assobio lhes negava a entrada no Céu, não
fossem eles, brigões e putanheiros, a desfazer o equilíbrio perfeito da
Santíssima Trindade, o que seria o verdadeiro Caos, com o Céu e o Inferno a
confundirem-se e misturarem-se e, daí então, a alma piedosa do Padre Manuel,
Prior-mor do Reino dos Céus, a garantir ao atarantado Arcanjo Assobio que
conhecia aquelas almas há mais de uma Eternidade e que eram, apesar dos seus
exageros, almas generosas e pias e que aquilo escrito nas laudas do registo de
serem brigões e putanheiros eram calúnias levantadas pelos “talassas” do Paiva
Couceiro, que nos tempos idos da “traulitada monárquica” no norte do País,
apenas os dois, Padre Casimiro e Manoel Caetano, valentes e feros, à força de
bordoada, correram com a secção de “talassas”, aboletados na sede do Concelho e
arriaram a bandeira monárquica do edifício da Câmara Municipal e, em seu lugar,
como era devido, colocaram a bandeira da República, removendo assim um
inesperado obstáculo ao livre curso dos desígnios da Divina Providência, sendo
de levar também a julgamento, como atenuante dos dois amigos, brigões e
putanheiros, a circunstância do Padre Casimiro, com sua imensa Sabedoria das
coisas do Mundo, ter salvo o jovem Aspirante a oficial miliciano, tenro ainda,
em primeira recruta, que aliás exibe o nome honrado de seu avô, Manoel Caetano,
das garras e da cobiça da menina Gertrudes, mais conhecida por “Papa alferes” e
de sua tia Dona Miquelina, que a imensa Misericórdia e Bondade de Deus as levou
para o seu Santo Regaço e fez delas as faxineiras do Céu e, assim, disse, ao
atarantado Arcanjo Assobio, a alma do santo e piedoso Padre Manuel, que morreu,
como bom pastor, no exercício de seu múnus sacerdotal, rodeado de suas ovelhas,
que nunca lhe faltaram com a côngrua e, louvado seja Deus, nem com a
assistência à missa, roído por uma ferida ruim que lhe corroeu a garganta e
agora por mercê de Deus, Todo Poderoso, Prior-mor do Reino dos Céus e, assim
dito, se aprestou, ainda que contrariado, o atarantado Arcanjo Assobio, que “apoucalhado”
fora e agora, neste tempo sem tempo, zeloso pesador de almas, a deixar passar
para a Glória dos Céus os dois amigos brigões e putanheiros, as pipas de vinho
e os presuntos, sem que S. Pedro, em breve (ou propositada) soneca, tivesse
dado por conta. Assim se abriram as portas do Céus, aos dois amigos, feros e
brigões, mas capazes de darem a camisa, a quem, dos seus, dela precisasse e, em
cortejo celeste, guiados pela alma tísica do Padre Francisco, a quem as
humaníssimas dores e o amor de Raquel haviam resgatado das chamas do Inferno
(…)
Manuel
Veiga
“Do Amor e
da Guerra” – Epílogo
Romance –
edição Modocromia
Fecha-se o ciclo em beleza!
"DO AMOR E DA GUERRA" na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro - Lisboa
No final será servido Moscatel do Douro acompanhado de Folar de Trás-os-Montes e, para aqueles/as de gostos mais "substanciais", pasteis de bacalhau e vinho tinto da região.
Seja Bem Vindo/a
Quem Vier Por Bem! ...
9 comentários:
Por bem iria, se me fosse possível ir.
Muito sucesso, Manuel!
Gosto imenso da narrativa, que possui um estilo inconfundível.
Ou seja, originalidade e qualidade literária não lhe faltam para ser um livro de sucesso. Que é o que eu muito desejo.
Caro Veiga, uma boa semana.
Abraço.
Muito êxito!!!! Desejo-o sinceramente.
Beijinho.
E tudo me soa tão familiar! Transmontana que sou.
Vai ser mais um sucesso, estou certa.
Beijo, meu amigo Manuel.
Disse-te o que penso deste teu livro. E desejo que os teus leitores o apreciem tanto como eu.
Um grande beijo, meu Amigo.
Não irei ao moscatel (generoso) nem ao folar que me estão interditos. Mas vou procurar a obra e lê-la por inteiro. Aprecio a forma como dás ordem às palavras e ideias que requer uma leitura atenta. Entre saias e botas, entre urbe, campo e cera, a tua narrativa denuncia uma formação que vai para além do estudo na academia, nela espelham-se vivências repartidas por diferentes palcos.
Os maiores êxitos, MV.
Meu caro amigo,
Que amanhã seja mais um momento feliz e de sucesso
na partilha deste teu magnífico livro.
Este pastel de bacalhau, acompanhado de vinho tinto
da região é irrecusável, viu?!...rss
Adorei a música escolhida e seja um dia inesquecível
para o poeta-escritor na partilha da apresentação
do livro, com muita harmonia, alegria e paz!
Bjos.
Caro amigo Manuel,
Iria por bem pelo livro, sobretudo. Mas também pelo pastéis de bacalhau, (no Brasil, bolinho de bacalhau), e pelo vinho tinto da região. E pela confraternização com os amigo(s), amiga(s).
Com amigos e um bom vinho, não há dignidade que se corrompa, rss!
Espero que tenha sido um grande sucesso a festa ontem, meu caro Manuel!
Forte abraço,
José Carlos
P.S.: Será no próximo dia 28 o dia da virada nas eleições do Brasil?
Tomara que sim e possamos cantar como o fez Thiago de Melo: "Faz escuro mas eu canto/ porque o amanhã já vai chegar!"
Leia-se na primeira linha "pelos pastéis,,,"
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