domingo, novembro 25, 2018

HORIZONTE LÍQUIDO DO TEJO


Vicejam espinhos nas ruínas do tempo
E os rios medem as margens no sobressalto das árvores...

Em seu pudor - ou resguardo - a palavra lateja. Mítica.

Clandestina embora atiça o fervor que germina
Nos rostos calcinados e na amargura dos homens.
E o alvoroço ganha então asas nas veredas do sangue.
E no percurso inóspito dos passos...

As mulheres revestem-se de sibilinos gestos
E soletram a boca das crianças
Nas migalhas...

E erguem o olhar pleno. Antigas ânforas
Que repletas extravasam. E minguadas se aprestam
A todas as sedes e a todas as urgências.
E que de mão em mão passam. Gloriosas...

Fecundos são os dias assim pressentidos
Que amadurecem como crisálidas. E se soltam serenos
Na arribação das aves. E nos ritos da memória...

E se advinham no pulsar expectante da cidade
Ainda agora cais. A erguer promessas.

E a desenhar velas
No horizonte líquido do Tejo...


Manuel Veiga
25/11/2018

7 comentários:

Ailime disse...

Boa tarde Manuel,
Um poema muito belo ao Rio que tanto amo, o meu rio, como costumo dizer, e que tão maltratado tem sido ultimamente.
Que seja um horizonte líquido de águas renovadas.
Beijinhos e bom domingo.
Ailime

luisa disse...

Belíssimo esse horizonte líquido que sempre gosto de olhar quando visito Lisboa.

Boa semana, caro Manuel Veiga.

Graça Pires disse...

"desenhar velas
No horizonte líquido do Tejo". Todo o poema é cheio de significado e muito belo, meu Amigo.
Uma boa semana.
Um beijo.

Teresa Almeida disse...

E feste cais imanam palavras-tágides que glorificam tempos de amargura e alvoroço.
Tão intenso, meu amigo Manuel Veiga.


Beijos.

Teresa Subtil

Pedro Luso de Carvalho disse...


Meu amigo Manuel, dentre os belos versos que compõe esse poema, chamou-me a atenção este:

Clandestina embora atiça o fervor que germina
Nos rostos calcinados e na amargura dos homens.
E o alvoroço ganha então asas nas veredas do sangue.
E no percurso inóspito dos passos...


Uma excelente semana,
Um grande abraço
Pedro

Agostinho disse...

Por veias diurnas corre imparável o conduto da poesia, migalha a migalha, por vermelhos veios, o Poeta condu-lo entre margens a um Tejo sem horizontes.

Abraço.

Suzete Brainer disse...

Manuel,

Primeiro quero evidenciar a beleza deslumbrante
do título: " O Horizonte Líquido do Tejo"!...

Percebi e senti todo o poema nesta simbologia
da emoção, "a palavra lateja. Mítica."
"E erguem o olhar pleno" em "todas as sedes
e a todas urgências." Neste sentir humano que
colhe a tristeza diante das desigualdades
sociais, "a desenhar velas no horizonte
líquido do Tejo..."

Meu amigo, fico encantada com este teu imenso
talento poético, que desenha o poema como
corpo líquido, a denunciar uma humanidade na
sua desigualdade social, em sua inscrição
do sofrimento.

Beijo.

ESCULTOR O TEMPO

Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos, onde me revejo. E as mãos, arados. E os punhos. Em luta erguidos…  S ons de fábrica...