Vicejam espinhos nas ruínas do tempo
E os rios medem as
margens no sobressalto das árvores...
Em seu pudor - ou
resguardo - a palavra lateja. Mítica.
Clandestina embora atiça
o fervor que germina
Nos rostos calcinados e
na amargura dos homens.
E o alvoroço ganha então
asas nas veredas do sangue.
E no percurso inóspito
dos passos...
As mulheres revestem-se
de sibilinos gestos
E soletram a boca das
crianças
Nas migalhas...
E erguem o olhar
pleno. Antigas ânforas
Que repletas extravasam.
E minguadas se aprestam
A todas as sedes e a
todas as urgências.
E que de mão em mão
passam. Gloriosas...
Fecundos são os dias
assim pressentidos
Que amadurecem como
crisálidas. E se soltam serenos
Na arribação das aves. E
nos ritos da memória...
E se advinham no pulsar
expectante da cidade
Ainda agora cais. A
erguer promessas.
E a desenhar velas
No horizonte líquido do
Tejo...
Manuel Veiga
25/11/2018
7 comentários:
Boa tarde Manuel,
Um poema muito belo ao Rio que tanto amo, o meu rio, como costumo dizer, e que tão maltratado tem sido ultimamente.
Que seja um horizonte líquido de águas renovadas.
Beijinhos e bom domingo.
Ailime
Belíssimo esse horizonte líquido que sempre gosto de olhar quando visito Lisboa.
Boa semana, caro Manuel Veiga.
"desenhar velas
No horizonte líquido do Tejo". Todo o poema é cheio de significado e muito belo, meu Amigo.
Uma boa semana.
Um beijo.
E feste cais imanam palavras-tágides que glorificam tempos de amargura e alvoroço.
Tão intenso, meu amigo Manuel Veiga.
Beijos.
Teresa Subtil
Meu amigo Manuel, dentre os belos versos que compõe esse poema, chamou-me a atenção este:
Clandestina embora atiça o fervor que germina
Nos rostos calcinados e na amargura dos homens.
E o alvoroço ganha então asas nas veredas do sangue.
E no percurso inóspito dos passos...
Uma excelente semana,
Um grande abraço
Pedro
Por veias diurnas corre imparável o conduto da poesia, migalha a migalha, por vermelhos veios, o Poeta condu-lo entre margens a um Tejo sem horizontes.
Abraço.
Manuel,
Primeiro quero evidenciar a beleza deslumbrante
do título: " O Horizonte Líquido do Tejo"!...
Percebi e senti todo o poema nesta simbologia
da emoção, "a palavra lateja. Mítica."
"E erguem o olhar pleno" em "todas as sedes
e a todas urgências." Neste sentir humano que
colhe a tristeza diante das desigualdades
sociais, "a desenhar velas no horizonte
líquido do Tejo..."
Meu amigo, fico encantada com este teu imenso
talento poético, que desenha o poema como
corpo líquido, a denunciar uma humanidade na
sua desigualdade social, em sua inscrição
do sofrimento.
Beijo.
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