quarta-feira, novembro 07, 2018

NÃO CABE AO POETA....


Poema é pura forma – sem regra
E sem guarida…

O poeta é de outra instância
É torre que assinala. E o húmus.
E a substância.

E é o parto que fomenta. E é a gravidez do mundo.
E o gesto inaugural
E o xisto que detona
E o fogo sagrado
E a ara em que se imola. E a febre.
Verbo sem mácula negando-se à captura
Da Forma...

Não cabe ao poeta o curso do poema.

Manuel Veiga


9 comentários:

Larissa Santos disse...

Poema adorável:))

Hoje:- Se soubesses, como brilha o sol em mim.

Bjos
Votos de um óptima Quarta - Feira

José Carlos Sant Anna disse...

Mas cabe ao poeta essa dicção, essa inflexão, tão própria e apropriada, para "encontrar a realidade das coisas". Basta que estejamos diante da perplexidade que o poeta insinua...
Um forte abraço, caro amigo!

Quase Cinderela disse...

Poema fantástico, com beleza, sentimento e ritmo
Obrigada
Abraço

Jaime Portela disse...

A poesia pode ser um misto de desafio (para o poeta) e de descobrimento (para o leitor). Assim, o poeta disponibiliza um campo minado que pode desencadear no leitor diversos sentimentos pessoais.
A poesia é inútil (alguém disse), "sem regra, sem guarida", mas indispensável. E é algo impossível para as mentes adestradas e castradas.
O poema é brilhante, parabéns.
Caro Veiga, continuação de boa semana.
Um abraço.

Tais Luso de Carvalho disse...

Pois é, meu amigo, o poeta mostra o mundo como o vê, só que com um pouco mais de suavidade, talvez para não melindrar a sensibilidade de alguém. Porém tudo fica dito nas entrelinhas, e que muitos não enxergam.
A construção, a forma já vai aliviando. Quantos poemas lemos que, muitas vezes, abrem-se as janelas da vida!?
Não cabe ao poeta o curso do poema. Sim, mas as águas escoam.
Por isso são poetas.

Beijo, felizes dias pela frente.

Teresa Almeida disse...

" Não cabe ao poeta o curso do poema"
Como me revejo neste verso! Como se delírio fora. "E febre".

Diria que, neste poema, o talento se ergue.

Parabéns, meu amigo Manuel Veiga.

Beijos.

Boop disse...

Curioso, eu li:
"E é o parto do fonema"
E o meu cérebro disparou numa série de associações, sobre a cadência, a melodia, o timbre da voz.
E pensei que é interessante pensarmos em que voz ouvimos o poema na nossa cabeça. E a sorte que temos quando conhecemos a voz de um poeta e podemos evoca-la em nós e ser embalados por outra voz que não a nossa.

Isto numa fração de segundo até perceber o que está escrito
"E é o parto que fomenta"

Mas talvez isto que me aconteceu ao ler seja parte do que diz o ultimo verso
"Não cabe ao poeta o curso do poema"
As palavras não são nossas - disse-me um amigo um destes dias.
Tudo o que escrevemos é incorporado por quem lê e deixa de ser nosso.
Ideias emprestadas que traduzimos como sabemos e podemos para serem reinterpretadas por outro num qualquer momento em qualquer lugar do mundo.

Teresa Durães disse...

Um poema escapa do sussurro dos nossos lábios

Graça Sampaio disse...

Que lindo!!!(Como sempre - e cheio de força. Força que nos vem da terra, da mãe-natureza! Muito bom!)

Beijinho, Poeta

ESCULTOR O TEMPO

Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos, onde me revejo. E as mãos, arados. E os punhos. Em luta erguidos…  S ons de fábrica...