“Há uma rotação do teu
corpo –
Andas pela casa: és um
leve rumor sob o silêncio
Um rumor que alumia a
sombra silenciosa;
Na sala, o homem quase
surdo quase cego
Ouve-te, julga
reconhecer-te: vens aí.
Estás aqui. O intervalo
de tempo já começou:
Há uma rotação no teu
corpo
Que me exclui do mundo e
Entretanto é feita para
mim; atinge-me
À velocidade da luz.
E eu o homem quase surdo
quase cego
Sou tomado pelo vento do
fogo que me consome
Até ser apenas a última
brasa: pequenas ravinas de luz
O incêndio restante sob
a exausta crosta da terra
Estavas, estiveste ali.
O tempo recomeça.
Apareces e desapareces.
Como a luz do farol
disparando no céu sobre as casas
Ou como o anúncio
luminoso do prédio em frente
Que varre intermitente a
obscuridade do quarto no filme.
Quando voltará?
É como se soubesses
Que voltará, sim, e que
não, não poderá voltar.
Quando, e se voltar,
serei eu talvez
Quem já lá não está.
Quando
É quando?
Quanto tempo ainda
poderá o mundo voltar
À possibilidade dessa
forma?
Manuel Gusmão
In: Teatros do Tempo,
Editorial Caminho, 2001
3 comentários:
Muito bom:)) Adorei.
Hoje:- Quando os dias pesados me abatem o rosto
Bjos
Votos de uma óptima Quarta-Feira .
Uma publicação oportuna, aliada à Medalha de Mérito Cultural com que o poeta e ensaísta foi distinguido.
Obrigada, caro Manuel Veiga.
Abraço
Olinda
Um poema fulgurante que encerra múltiplas emoções.
Belíssima e oportuna escolha, meu amigo Manuel!
Beijos.
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