segunda-feira, julho 22, 2019

NUDEZ DA VERTIGEM...


Abolimos as palavras que sabemos gastas
E riscamos todos os nomes. E todos os registos.
E inventamos um abecedário
De gestos delicados
E eloquentes
Silêncios.

E balbuciamos a raiz da água
Na singeleza das coisas que se negam
À superfície. E habitam
A nudez da vertigem.

E cuidamos ciosos da claridade
Que das esferas resplandece.

Por vezes, tresmalhados
São os ventos. Deles colhemos, porém,
O perfume e o fervor
Com que soltamos a cinza
E dulcificamos
As mágoas.

E domamos os abismos.

E, soberbos, nos damos
Na libertação das quimeras
E dos símbolos.

E na glorificação dos corpos…


Manuel Veiga


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