Arrasta o canto itinerários
de água
Caligrafia oculta que
os gestos percorrem
Em fervor dos dias.
E se desenham no rosto inconformado
Da hora. Solstícios passados embora e o calcário
E a sombra a articularem
a matriz.
Estalactites de
sangue a irromperem
Como raízes abandonadas.
Fio apenas
A crescer nos
dedos e a dar forma
À subtil
condensação que se ergue
Na rota do peito
onde desagua – canto ainda.
E em rebeldia se
desnuda.
Litania agora. E
sobressalto e mágoa
A tatuar sinais e
a exorcizar o tempo
Escasso. Ponto de
redenção e fuga –
Sopro e voo. E grão na voz a subir
Na garganta. E a marca de água
Na garganta. E a marca de água
Em que o poeta se
inaugura.
Grão de fogo.
E rumor íntimo.
Manuel Veiga
8 comentários:
Poema de uma sedução ímpar. Gostei muito do entrelaçar dos versos, os quais, nos embalam e elevam a um patamar poético numa simbiose erótica exemplar. Muito belo
Abraço poético
Não sei o que dizer nos dias de hoje, deveria ser sensível, lamento
Mais um fantástico poema! Adorei...
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Nesta senda feita de curvas e rectas
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Beijos e uma excelente noite!
Que o canto persista, mesmo que os dias e as
circunstâncias se mostrem menos solares. Que as
estalactites recuperem a alvura e as suas
raízes de magia milenar. E tudo no rumor íntimo
encontre espaço para se espraiar em louvor à
vida.
Poema belíssimo, caro Manuel Veiga.
Abraço
Olinda
O " tempo é sempre escasso", mas por vezes fazemos com que pareça mais escasso ainda" não vivemos tempos fáceis e há que reflectir neles, agora que o tempo já, de escasso não tem nada. Aproveitemo.lo para pensarmos na inutilidade da correria que temos feito , no pouco tempo que destinamos ao amor, ao carinho, ao afecto, no tanto que conseguimos amealhar com tamanha sofreguidão e que, agora, de um momento , vemos que não valeu de nada ; de repente ficamos impotentes perante um inimigo desconhecido, aparentemente insignificante mas que nos está a arrasar com o seu poder estrondoso.Achavamo-nos intocaveis, usavamos e abusavamos des recursos oferecidos pela natureza e agora? Agora, Manuel, creio que o comportamento humano vai mudar para melhor: as bruxas vão continuar a existir, voando ou não em vassouras, mas vão ser mais cuidadosas e não vão precisar de nos assustar tanto, porque depois desta crise ficaremos imunes e pouca coisa será capaz de nos tirar o sono. Amigo, espero que estejam todos bem por aí e que as bruxas não se aproximem; nunca sabemos do que são capazes. Um beijinho e boa noite
Emilia
A poesia verte-se, assim, como lenitivo e fulgor íntimo.
E o poeta não abranda.
Parabéns, amigo Manuel.
Um beijo.
Eu mesma não nego, apesar do risco...
Caro Manuel,
este rio não cessa de crescer e nunca nos banhamos na mesma água. Por isso sempre estamos mergulhados nele. Quanto é bom saber que igualmente este rumor íntimo também se renova sempre!
Um abraço, caro Mamigo!
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