quinta-feira, maio 28, 2020

RUMOR ÍNTIMO...


Arrasta o canto itinerários de água
Caligrafia oculta que os gestos percorrem
Em fervor. E se desenham no rosto inconformado
Dos dias. Solstício embora é o calcário
E a sombra a articularem a matriz.
Estalactites de sangue a irromperem
Como raízes fecundas. Fio aceso
A crescer nos dedos e a dar forma
À subtil condensação que se ergue
Na rota do peito onde desagua.

E em rebeldia se desnuda.
Litania agora. E sobressalto e lume
A tatuar sinais e a exorcizar o tempo
Escasso. Ponto de redenção e fuga –
Sopro e voo. E o cântico. E a marca de água.
Em que o poeta se inaugura.

Grão de fogo. Rumor íntimo.


Manuel Veiga




11 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Sublime. Lirismo e sedução a formar o poema perfeito. Gostei muito

Saudações

Cidália Ferreira disse...

Mais um poema fantástico!! :)
-
Enquanto a vida for vida tens a minha gratidão.

Beijos e uma excelente tarde! :)

Teresa Almeida disse...

Teus itinerários são íntimos desabares de vida. E soltas torrentes de palavras que prendem como "grãos de fogo". São "Redenção e fuga".

Beijo, querido poeta.

José Carlos Sant Anna disse...

Este poeta não se cansa de se inaugurar, embora esteja sempre se derramando os "rumores íntimos" que para a alegria do leitor sempre fervilham ou borbulham "no peito onde deságuam".
Como sempre tem o endosso do que é o fazer poético!
Um abraço, caro amigo!

Pedro Luso de Carvalho disse...

“E em rebeldia se desnuda.
Litania agora. E sobressalto e lume
A tatuar sinais e a exorcizar o tempo
Escasso. Ponto de redenção e fuga –
Sopro e voo. E o cântico. E a marca de água.
Em que o poeta se inaugura.

Grão de fogo. Rumor íntimo.”


Com sua licença, amigo Manuel, transcrevo no comentário o final deste seu ótimo poema, como uma forma de realçar o que está editado, para chamar a atenção de estudantes e de jovens poetas.

Um bom final de semana, poeta, com os cuidados com o coronavírus.

Um abraço, caro Manuel.

Olinda Melo disse...


Grão de fogo. Rumor íntimo.
Expressões surpreendentes. Aparentemente antagónicas.
Do grão que germina, se ramifica em flor e fruto. E o fogo
mítico e místico que purifica e redime.

Em consonância se somam o canto da água,
os gestos, os dias curtos, o fio aceso que cresce nos dedos,
e o encantamento que explode no peito.

Mas é tempo também de rebeldia. Ponto de fuga
que o tempo não pára e há que cumpri-lo.
Cântico dos cânticos.
Ode à pujança da vida, que emociona.

Rumor íntimo. Doce e apaziguador.
E a marca de água. A marca do Poeta.
Que escrita, esta!

Manuel Veiga, um abraço.

Olinda

Ana Tapadas disse...

Tão belo que poderia «dar» uma aula...mas seria esquartejá-lo, dissecá-lo com a frieza que aqui não uso.

Beijo

Marta Vinhais disse...

A viagem pelo Mundo...cores tristes e as rebelde que se encontram e desencontram...
Lindo....
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

São disse...

Grande Paco , condizendo com a beleza do teu poema.

Beijo e bom Junho

Ailime disse...

"Fio aceso a crescer nos dedos" a esculpir este maravilhoso poema.
Parabéns, Manuel. Um poema de excelência
Uma boa noite.
Ailime

Agostinho disse...

A intimidade é um lugar numa geografia
o Poeta faz/fez evoluir a fraseologia que carrega de símbolos,
ora mais densa a exigir agudez no soletrar do verso
ou mais aberta e livre de máscaras
como no poema da mensagem posterior.

Abraço, Amigo Manuel Veiga.

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