sexta-feira, dezembro 04, 2020

AO ENCONTRO DE PENÉLOPE

 

Generosos são os deuses que tecem filigranas

No corpo da noite

Sempre ali estiveram as ilhas.

Meus olhos é que tardaram

Nessa bebedeira do sonho...

 

O voo é esta reclinação do tempo.

Desprendo-me de mim. E mergulho no magma.

Como outrora a cobiça dos impérios

Criava tempestades...

 

Pepitas luminosas no colar de Athena

As ilhas sempre ali foram. Homens e impérios

As profanaram no impudor da guerra.

 

E no delírio das vitórias.

Gargantas bárbaras por onde escorre vinho

Generoso. Subtil veneno que entorpece

Como lento remoer da insubmissa espera...

 

Sou herdeiro desta miragem. Da infinita doçura

Que sara os golpes. E da mão que vinga.

E do apolíneo gesto que rasga a pedra.

E do bronze da história que clama.

E que reclama. E dos hercúleos pilares

Que sustêm a Europa. Néscia.

.....................................................

Regresso agora. Ítaca reinventada.

Pátria-minha. Ferida aberta...

 

Manuel Veiga

 

15 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Numa breve passagem - com mensagem colada - a fim de poder chegar a todos. Desejando que todos se encontrem bem de saúde. Obrigada a todos por não me terem “abandonado” Voltando, conforme o tempo me permitir. :)
--
“ Liberdade hipócrita ”
-
Beijo e um excelente Fim de Semana;-Prolongado.

Teresa Almeida disse...

A "bebedeira do sonho" provoca esta viagem poética a aflorar as feridas da humanidade. E desata a voz insubmissa e reclama. É, ainda, doçura que sara.

Meu amigo Manuel, como eu gostaria de extrair as pepitas que iluminam o teu poema.

Beijo.

Tais Luso de Carvalho disse...

Que belo poema, meu amigo Manuel, como sempre você nos oferece esse inspiradíssimo poema em meio a esse conturbado momento de nossas vidas. É um período em que a poesia cai muito bem, suaviza um pouco nossos dias após assistirmos os noticiosos, o famoso gráfico dos óbitos e contaminados...
beijo, uma suave semana!

"O voo é esta reclinação do tempo.
Desprendo-me de mim. E mergulho no magma.
Como outrora a cobiça dos impérios
Criava tempestades..."

Morena flor disse...

OLÁ, BOA TARDE! ADOREI O SEU BLOG, MUITO LINDO. JÁ ESTOU SEGUINDO VOCÊ. ABRAÇOS. ELISABETE.

Maria disse...

Olá! boa tarde. Passando para te desejar um bom domingo. Gostei do seu blog, já estou te seguindo.
Bjs.

Maria Rodrigues disse...

Um poema sublime!!!
Boa semana
Beijinhos

Graça Pires disse...

Também sou Penélope. E concedo-me o direito de esperar Ulisses, ou um poema...
Que belo poema, meu Amigo!
Cuida-te bem.
Uma boa semana.
Um beijo.

Juvenal Nunes disse...

A vida tem sempre esse dualismo entre a ferida aberta e/ou a cicatriz indisfarçada.
Abraço amigo.
Juvenal Nunes

São disse...

Feridas existem, meu caro amigo, que jamais cicatrizam de todo...

Belo poema.


Beijinho e bom feriado

Olinda Melo disse...


Sim, as ilhas sempre ali estiveram. E mesmo
que a inclinação do eixo da Terra diga o
contrário, Ítaca sempre ali estará, onde
Penélope espera o seu Odisseu.

E a Europa, eterna menina, néscia talvez,
encontrará nos pilares de Hércules a força
e a inspiração para se suster de pé.
Um renascimento... Quem sabe?!

Belo Poema, amigo Manuel Veiga. Gostei
muito de acompanhar Penélope nesse seu
fiar e desfiar dos novelos que compõem a
História.

Abraço
Olinda

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Neste momento também sou um pouco dessa Penelópe , que espera um Ulisses em forma de esperança neste tempos estranhos.

Um poema histórico mas onde devemos ler as suas entrelinhas.

Muito bem concebido.

;)

Ana Tapadas disse...

E, de repente, olho do alto da Acrópole esse deslumbrante colar de ilhas-pérola!
Beijo

Alice Alquimia disse...

Poesia muito inspiradora.

Ailime disse...

Boa noite Grande Poeta,
Um poema muito belo esculpido pela sua tão elevada cultura Poética.
Li e reli e adorei!
Um beijinho.
Ailime

Pedro Luso de Carvalho disse...

Penso, caro poeta Manuel Veiga, que o maior elogio para o poeta é debruçar-se sobre o poema não apenas para uma leitura, mas muitas delas e, mais ainda voltar ao poema outras vezes. Assim eu fiz com esse seu "Ao Encontro de Penélope", caro Manuel, (além disso lembrei-me da excelente interpretação de Kirk Douglas, interpretando Ulisses e Silvana Mangano na magistral interpretação de Penelope).
Uma boa semana meu amigo Manuel.
Grande abraço!

ESCULTOR O TEMPO

Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos, onde me revejo. E as mãos, arados. E os punhos. Em luta erguidos…  S ons de fábrica...