Lisa nos dedos cresce a forma e o seixo
Como linhas libertas na geometria do sexo
Ou prolongamento das coxas reclinadas
Em espera do gesto líquido de colhê-las…
Acendem-se brisas sobre a relva da tarde
Nos corpos como tochas entre gritos
Corvos brancos no círculo dos sentidos
Limiar de fusão entre o sexo e o seixo…
Rebolam-se cavalos no declive dos seios
Línguas como vespas ferradas como lapas
Cio estival de dias solarengos nos lábios
Enrolados como os potros sobre éguas…
Revolve-se o seixo e as coxas, arde o sexo
Na boca a saliva das horas maturadas
Tomba a paisagem sobre os corpos e voam
Pássaros no espasmo vulcânico dos dias…
Abrem-se grutas, argila líquida nas línguas
E nos dedos como linhas modeladas explode
O seixo e nas horas e nos dias gritam aves
Em côncavo percurso de ondas retomadas…
Enlaçados em dolência de cigarras ora acesas
Restolho quente dos corpos desnudados
Nada corre. Suspensos arde a sombra apenas
E crepitam os dorsos no cântico da tarde…
Manuel
Veiga
Coreografia dos Sentidos- pág 106
Edicão MODOCROMIA
2 comentários:
Boa noite Manuel,
Um poema muito belo e sensual, em que as metáforas primam pela excelência.
Um beijinho e continuação de uma boa semana.
Ailime
Eis o Poeta no seu exercício de escrita poética, esgrimindo as palavras como
lavas que um vulcão incandescente deixa
escapar. E potros na relva da tarde
cumprindo um ritual que nos vem desde
o princípio dos tempos.
Assim é. O fogo arde. E a água, líquido
benfazejo, mata a sede do caminhante.
No prefácio do seu livro, "Coreografia dos Sentidos", Domingos Lobo faz um comentário a este Poema que se lhe ajusta na perfeição.
E eu digo:
Que Poema poderoso este, meu amigo Manuel Veiga!
Abraço
Olinda
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