Na lisa permanência do tempo ressaltam
De
quando em quando, pequeníssimas particulas
Frações
mínimas – um relance de um rosto
Que
se abre à nossa passagem e que saído da multidão
Parece
querer abraçar-nos – ou uma outra notícia sem memória
Caída
do cesto das notícias espessas
O
do comentário erudito que nos deslumbra.
Ou,
então sobra sempre o poema que um dia
Havemos
de escrever e nunca mais vêm à claridade.
E,
no entanto, haverá talvez uma mão clandestina
E
uns centímetros aveludados da pele nua – uma carícia
Que
fica tatuada na polpa dos dedos. E por aí permanece…
Porventura,
um amor irreal coberto de palavras
Inventadas,
onde o fogo abrasa e os dias
Cristalizam
em pequenas doses de tempo
Fluido
– entre a quimera e a dor mordente –
Uma
fina mágoa a desaguar na avalanche da vida
Onde
se joga o “homo faber” e se perde e ganha a liberdade
Nas
minudências festivas e no fervor das grilhetas
Assim
caminhamos, frágeis e vulneráveis
Por
entre a multidão que nos é estranha
Apressados
e sem tempo, que o tempo alienamos
E
dele colhemos apenas a margem e a miragem
Presos uns aos outros pelos longos dedos da solidão
Manuel
Veiga
08.01.2022
3 comentários:
Esplêndido, Manuel!
Um abraço!
E pensar que são essas mínimas frações que fazem
nosso dia se encher de esperança. Ou apenas esperar
a solidão se esvair entre os dedos, assim ...
'entre a quimera e a dor mordente'.
Lindo, mVeiga .
Meu abraço
São tantas as vezes que nos sentimos sós mesmo rodeados de outras pessoas.
Profundo, sentido e maravilhoso poema.
Um grande abraço
Enviar um comentário