segunda-feira, julho 21, 2025

Espinhos e Rosas


 

Pessoa, todos o sabemos, gostava de flores

“dai-me rosas, dai-me rosas e lírios também…”

e, coitado, levava bem longe a vontade

de flores em que consumia a alma

a clamar que se não houver rosas (para dar)

que, ao menos, haja vontade de rosas lhe darem…

e meditava sobre o destino do Mundo

perante uma rosa abandonada no chão


não consta que em vida Pessoa tivesse

um leito de pétalas e de rosas, nem

se compreende muito bem essa vontade

inadiável de rosas “e lírios também” …

será desejo? ou apenas sonho de sonho

de pétalas sem espinhos?

Ou talvez seja ponderação entre a fragilidade

das pétalas e a razão dos espinhos…


Manuel Veiga

 

4 comentários:

Ana Tapadas disse...

Tenho lido noutros lugares, mas continuo fiel à tua bela poesia!
Um abraço

Olinda Melo disse...

"Dai-me rosas e lírios,
Dai-me flores, muitas flores
Quaisquer flores, logo que sejam muitas...
Não, nem sequer muitas flores, falai-me apenas..."
Sim, tem razão, Manuel Veiga. Na obra de Fernando Pessoa, tanto ortónima como heterónima, encontramos muitas referências a flores.
E neste poema ele interroga-se:" Qual o sentido da vida?" O facto é que os espinhos e as rosas estão indissoluvelmente agarrados. Assim a vida, feita de bons e maus momentos.
Abraco
Olinda

Tais Luso de Carvalho disse...

Olá, querido amigo, pois até hoje me pergunto "Qual é o Sentido da Vida..." É algo que me deixa encucada, bato nessa tecla, e vejo as pessoas dizerem, viva o agora! Estou vivendo, mas tenho o direito de pensar. Nascer, viver pouco tempo e partir...Sim, qual o sentido disso?
Sabe, Manuel, tenho um probleminha com as flores, gosto muito delas, mas em seu lugar de origem, lindas, vivas por mais tempo. Não gosto de flores em vasos, nesses dias fico observando sua trajetória... e não me alegra isso. Nos jardins ficam exuberantes, com liberdade. Vejo alegria! Vejo a criação.
Li várias vezes seu belo poema, e gostei muito, uma sensibilidade que senti, muito linda.
Deixo meus votos de um feliz fim de semana, amigo!
Beijo, muita paz e alegria, meu amigo.

lis disse...

'Um fragmento lirico , muito especial.
Diria : deita-me flores, mas não uma qualquer ;
deita-me a alma ,um pouco de cor..
Muito inspirador seu poema mVeiga
Boa semana, amigo
com meu abraço. E flores azuis.

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